Voz da Arquibancada#3: O convívio abusivo entre diretoria e torcida do Gama

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O texto se trata de um artigo de opinião e, portanto, é de inteira responsabilidade de seu autor. As opiniões nele emitidas não estão relacionadas, necessariamente, ao ponto de vista do Distrito do Esporte.
Por Gabriel de Sousa*

 

Poucos sofreram tanto nos dois primeiros meses de 2024 quanto o torcedor do Gama. O sentir do torcedor gamense é aquele mais agudo: o sofrer por amar. Justamente pela paixão, que não é compreendida pela diretoria da equipe, que a maior torcida do Distrito Federal vive dias difíceis sem horizontes de melhoras. Arrisco dizer que isso beira a ser um relacionamento abusivo.

O relacionamento abusivo é aquele que um lado sofre maus tratos e tem o coração ferido por um parceiro que demonstra pouco se importar com as aflições do outro lado. Pelo tamanho da paixão do gamense pelo Gama, impossível de se comparar com qualquer outro clube da capital federal, abandoná-lo nunca vai ser uma opção, mas nunca se sabe até quanto um coração aguenta sofrer.

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Nesta comparação, o torcedor do Gama sofre porque não é compreendido. Em troca dos cantos e do apoio incondicional nas partidas dentro e fora de casa, ele está recebendo uma enxurrada de notícias ruins e observa, de canto, o amadorismo dos seus gestores.

O primeiro baque veio já no início da temporada, quando foram anunciados os valores dos ingressos aos jogos no Bezerrão e das camisas oficiais da temporada. Os preços salgados de R$ 25 a R$ 100 nos tickets e de R$ 279 nos mantos foram alvo de reclamações, mas mesmo assim a praça esportiva, como de costume, estava com centenas de fiéis torcedores trajados com o novo equipamento.

Mas quem dera se esses valores fossem os únicos problemas. Bastou o Periquito enfrentar equipes competitivas no Candangão para as limitações, como uma chaga exposta, revelar-se para os adeptos. As derrotas para Ceilândia e Brasiliense, ambas por 2 a 0, arruinaram a animação dos gamenses com a temporada que, desde 2022, se resume ao campeonato local.

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O torcedor não teve tempo de se recuperar dos baques. Lacunas no esquema tático, queda de treinador e a aposentadoria do atacante Nunes, o maior ídolo recente do clube aos 43 anos, vieram em seguida. O que poderia ser um resumo negativo de um ano inteiro ocorreu em duas semanas. A classificação, que parecia garantida, agora depende de uma vitória sobre o organizado Capital e a torcida para um tropeço do Paranoá para se concretizar.

Torcedores entusiasmados com o desempenho da equipe agora temem que um filme antigo volte a se tornar realidade. Parecia que 2025 seria diferente, mas agora o terror dos torcedores voltou: o maior campeão do Distrito Federal pode ficar pelo quinto ano seguido sem calendário. É semelhante ao angustiante sentimento de traumas reincidentes, comuns nos relacionamentos abusivos.

Gama
Foto: Divulgação | Gama

Enquanto a torcida apaixonada cobra respostas no campo, a diretoria gamense parece que ainda não consegue compreender o que está acontecendo, o que o outro lado está sentindo. Será que apenas um integrante desta relação sofre ao ver um clube tão grande no ostracismo? Quem chora com a bandeira verde e branca na mão pelo receio da repetição de um fiasco?

Tal como nestes relacionamentos, a torcida do Gama espera que o outro lado mude as suas atitudes. As cobranças estão aí, escancaradas na porta do staff gamense. Mas é da diretoria que deve ser dado um passo para acabar com a aflição e iniciar uma tão esperada reconciliação do clube com a torcida.

Há apenas uma forma de reatar essa relação e fazer o convívio entre o Gama e os adeptos alviverdes voltar às épocas de glória: ouvir as demandas e encontrar formas de fugir desta crise. Ter calendário em 2026 é o mínimo para um clube que já conquistou uma Série B, 13 campeonatos candangos e se orgulha, com toda a razão, de ser o que mais coloca torcedores para acompanhar a partida que for. O título, por sua vez, pode significar o início de uma nova etapa desta história de amor.

Gabriel de Sousa é jornalista nascido em Ceilândia, na periferia da capital federal, e graduado na Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou no Correio Braziliense, SBT News e no Jornal de Brasília. Participou da cobertura das eleições distritais de 2022 e municipais de 2024. Atua no Núcleo de Produção Rápida da Politica (NPR) na Sucursal de Brasília do Estadão.

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