Uso excessivo de telas durante férias escolares acende alerta entre especialistas

O recesso escolar traz mais tempo livre, mas também acende um alerta importante dentro dos lares: a presença cada vez maior das telas na rotina das crianças. Celulares, tablets, televisores e videogames se tornaram os principais companheiros dos pequenos, especialmente durante as férias. O problema é que, em vez de garantir descanso e diversão, esse uso prolongado vem sendo associado a uma série de prejuízos ao desenvolvimento infantil.

Estudos recentes apontam impactos físicos, emocionais e sociais causados pelo tempo excessivo diante dos dispositivos. Dados da UFPR (Universidade Federal do Paraná) revelam que 74,4% dos adolescentes passam mais de duas horas diárias conectados, tempo superior ao indicado pela Academia Americana de Pediatria. Entre os problemas mais observados estão distúrbios do sono, piora na alimentação, dores musculares, dificuldades de socialização e até disfunções visuais e auditivas.

A pediatra Mirna de Sousa, membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), destaca que o uso desenfreado de telas na infância compromete não apenas aspectos motores, mas também emocionais. Para ela, é fundamental que as famílias repensem o tempo de exposição aos eletrônicos, principalmente nas férias. “Até os dois anos não recomendamos nenhum contato com telas. Após essa fase, o uso deve ser bem controlado, com alternativas offline presentes no dia a dia da criança”, afirma.

Outro dado preocupante vem da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. Antes da pandemia, apenas 15% das crianças entre zero e três anos utilizavam celulares ou tablets. Hoje, esse número chega a 59%. A combinação entre isolamento social, rotina apertada e busca por praticidade contribuiu para esse salto, que exige agora um esforço consciente de mudança por parte das famílias.

Mudança nos hábitos

Para a pediatra, a chave está na presença ativa dos adultos. Participar das brincadeiras, propor atividades em grupo e envolver as crianças no planejamento dos dias livres são ações que fortalecem os vínculos afetivos e reduzem a dependência digital. “Quando os pais se envolvem, a criança se sente mais acolhida e segura. Isso gera sensações de bem-estar e estimula o desenvolvimento emocional saudável”, explica Sousa.

Algumas iniciativas simples ajudam a mudar o cenário dentro de casa. Atividades como desenho, pintura, culinária, montagem de acampamento no quarto, customização de roupas ou teatro de fantoches estimulam a criatividade e mantêm a criança ocupada de forma saudável. Jogos de tabuleiro, brincadeiras lúdicas e noites do pijama também entram na lista de alternativas para ocupar o tempo livre longe das telas.

Natureza como aliada

Além do ambiente doméstico, o contato com a natureza surge como uma das opções mais eficazes para afastar os pequenos dos dispositivos. Pesquisas mostram que o hábito de brincar ao ar livre caiu drasticamente nas últimas décadas. Hoje, apenas 27% das crianças mantêm esse costume, enquanto no passado mais de 80% brincavam fora de casa. A queda revela uma mudança no estilo de vida infantil que precisa ser enfrentada com mais estímulo às experiências reais.

Passeios simples em praças, parques ou trilhas, piqueniques, caminhadas e até o plantio de uma árvore são exemplos de ações que promovem conexão com o meio ambiente e liberdade de movimento. Viagens em família para regiões como cidades à beira do Araguaia, também funcionam como bons momentos de reconexão com a natureza. Colônias de férias e atividades ao ar livre em grupo são outras alternativas valiosas durante o recesso escolar.

O esforço para reduzir o tempo de tela e valorizar a convivência presencial exige planejamento, criatividade e engajamento de toda a família. Mas os benefícios são inúmeros. “Ao estimular o brincar, a interação e o movimento, os adultos ajudam a formar crianças mais saudáveis, curiosas e emocionalmente preparadas para os desafios do mundo real”, finaliza a pediatra.

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