Associações especializadas em obesidade, diabetes e endocrinologia dizem que decisão de órgão do Ministério da Saúde é “elitização”
A Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), a SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) e a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) disseram ser contra a decisão de 20 de agosto de 2025 da Conitec (Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias) de não incluir a liraglutida (princípio ativo do Saxenda) e a semaglutida (presente no Ozempic e Wegovy) no SUS (Sistema Único de Saúde).
Em nota conjunta no sábado (23.ago.2025), as sociedades médicas afirmaram existir uma “elitização do acesso ao tratamento medicamentoso da obesidade no país” e que a decisão do órgão do Ministério da Saúde “fere os beneméritos princípios de equidade, universalidade e integralidade” do sistema público. Disseram ainda que “o acesso aos mesmos é exclusivo apenas para quem consegue pagar”.
A Conitec já havia abordado o impacto financeiro que esses medicamentos representariam para o SUS. Em maio, a comissão calculou que a inclusão de ambos os fármacos resultaria em gastos de R$ 3,4 bilhões a R$ 7 bilhões em 5 anos. Leia a íntegra do relatório inicial (PDF – 3 MB).
As sociedades contestam o argumento apresentado pela Conitec: “A decisão […], justificada pelo alto custo dos medicamentos, se contrapõe à negação de sequer avaliar a incorporação da sibutramina, que tem um custo mensal de menos de R$ 30, incorporação esta que foi solicitada por estas sociedades em dezembro de 2024”.
A nota afirma ainda que a falta de acesso a medicamentos no sistema público prejudica grupos vulneráveis. “A Abeso, a SBD e a SBEM discordam da decisão e lamentam pelos pacientes, notadamente pelas mulheres negras periféricas de baixa renda, que são as mais afetadas pela obesidade nos últimos anos”, escreveram.
A Conitec também havia indicado a necessidade de acompanhamento especializado para pacientes que usam esses medicamentos. Realizou, em junho de 2025, uma consulta pública para ouvir a sociedade civil e profissionais de saúde sobre o tema depois do parecer inicial de maio.