Ser criança para sempre é bom ou ruim?

Meu filho teve contato pela primeira vez com um patinete, de um amiguinho, no brinquedo havia um adesivo indicando a idade recomendada. O amiguinho disse que não tinha nada a ver, que ele já era um homem segundo seu pai, meu pequeno disse que não quer deixar de ser criança, isso me deixou pensativo.
Afinal, quanto tempo dura a infância? Quando somos pequenos imaginamos tudo enorme e talvez por isso tenhamos pressa em crescer, em nos tornamos adultos. Beber cerveja, dirigir, usar roupas sem senso estético, fazer xixi em qualquer lugar e quem sabe, comer tudo com leite condensado ou ketchup, os dois condimentos para qualquer refeição.
A dura realidade é que quando crescemos de verdade e amadurecemos (Alguns não), percebemos a tolice que foi não vermos o tempo passar. Você tem datado na memória o último dia que saiu para brincar? Sabe dizer qual foi a última vez que desejou um brinquedo na vitrine? Difícil, né? Não me faça essas perguntas, eu não saberia responder ao menos o ano dos acontecimentos. Existem adultos que fazem cosplay de criança, colecionando miniaturas em embalagens, estantes com bonecas, quadrinhos emplastificados e até cartinhas de Pokémon. A desculpa sobre a conservação dos itens é para venderem quando tiverem em um leilão de pessoas bilionárias querendo um segundo de suas nostalgias, mas a realidade é que tudo vira quinquilharia que dificilmente sai da casa mãe, às vezes nem o adulto sai, quem dirá os brinquedos.
Tenho muitas lembranças da minha infância, sempre que posso, vou despejando através das palavras por aqui. Acredito que o limiar entre ser adulto ou criança aconteceu durante uma partida de videogame no momento em que gritei com uma criança de nove anos porque ele havia me derrotado. Infelizmente foi dessa forma, mas eu abandonei meu cosplay de criança adulta naquele dia. Após perder com excelência uma partida de futebol, descobri que eu não era mais o melhor no super Nintendo do bairro, novos heróis nascem todos os dias
Sempre que aparecem coisas legais que não tivemos chance de fazer quando pequenos, liga o alarme da criança interior. Já vi adulto furando fila em parque de diversões, metralhando outras crianças com armas de água no clube e até comprando todos os itens de uma promoção evitando a alegria de outras crianças, tudo pela criança interior que não cresceu e nem foi educada.
Vejo nisso tudo uma certa infantilização e não nostalgia, adultos querendo se exibir, lembrando o personagem Kiko na turma do Chaves, onde a mãe lhe dava tudo. Alguns não notam a passagem do tempo; outros sentem vergonha das mudanças em sua aparência, como a cor dos cabelos ou o tamanho da barriga. Eu li em uma camionete a seguinte frase “Continuo criança, apenas mudei de brinquedo”, é de se surpreender como deve ser a vida dessa pessoa, mas penso, com certa pena, nas crianças que crescem em volta desse adulto mal formado.
As fases existem para vivermos e não congelarmos no tempo, nem a ciência conseguiu fazer isso ainda. Por isso é importante deixar o passado no álbum de fotos da família, na casa dos pais e ter um bom motivo para sempre visitá-los.
E faça terapia, em nome de todas as crianças que lhe cerca.
Sejam adultos e deixem a infância das crianças em paz.
Fui!

Thiago Maroca é escritor, membro da Academia Valparaisense de Letras, produtor audiovisual, mestre em educação, escoteiro, pai do Théo e uma meia dúzia de coisas que não cabem nesse espaço.
Manda um OI:@thiagomaroca / thiagomaroca@gmail.com

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