O vice-presidente da Arko Advice, Cristiano Noronha, avalia que há clima muito ruim entre o Executivo e o Legislativo. Nesta quarta, o governo sofreu uma derrota quando os parlamentares derrubaram o aumento do IOF anunciado semanas atrás. “Desde, praticamente, quando Lula assumiu, já nos primeiros meses, todo mundo falava assim: Lula está distraído da política, Lula não é mais aquele que gosta de fazer política, que gosta de se envolver.”
Segundo Noronha, é possível dizer ainda que tem uma antecipação do cenário eleitoral, da disputa eleitoral. “Daqui para frente, 2026 vai se antecipar cada vez mais.”
Noronha afirma que o governo Lula joga muito com uma suposta imagem ruim do Congresso. E exatamente isso irritou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). “Nesses últimos dias, a entrevista que o ministro Fernando Haddad deu criticando o aumento do número de deputados irritou muito os parlamentares”, afirmou. Ele considera que foi a gota d’água.
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Noronha avalia que os líderes do governo no Congresso fazem uma negociação que parece não conversar com o Executivo. “São acordos que são feitos lá e não são cumpridos.” Isso, segundo o analista, causa uma série de críticas e uma situação constrangedora para o Congresso.
“É uma sequência de erros que o governo comete na articulação política, nesse relacionamento com a base”, avalia. “Então, isso tudo vai desgastando muito essa relação com o Congresso.”
Nesta semana, o Hugo Mota não estava nem em Brasília. Mas ele decidiu vir pra Brasília, anunciou uma pauta quase meia-noite e conduziu pessoalmente a votação. Ainda fez ali uma articulação para que o Senado também votasse sobre a questão do IOF.

Um exemplo da relação ruim entre os Poderes, na visão de Noronha, foi a questão de vetos de trechos do projeto que disciplina o aproveitamento de potencial energético offshore. Com a derrubada, o custo da energia elétrica pode aumentar para o consumidor final. “O governo colocou a culpa [pelos vetos] no Congresso Nacional, sendo que houve um acordo com o governo para que houvesse a derrubada desses vetos”, explica .
Segundo Noronha, tem outra questão muito sensível aos parlamentares, que é a questão das emendas. “Os parlamentares viram uma espécie de articulação entre o Executivo e o Judiciário para constranger o Congresso Nacional,” afirma. Para o analista, a ministra que deveria cuidar da articulação, Gleisi Hoffmann, age para “ameaçar” os congressistas na questão das emendas.
Ele acredita que, se o governo resolver judicializar essa derrubada do IOF no Supremo Tribunal Federal, vai tensionar ainda mais a relação com o Congresso. Noronha não descarta que o Congresso possa mandar ainda mais recados de insatisfação ao governo. “Ainda tem a medida provisória 1303/25 também aumentando a arrecadação, a tributação de títulos, de fintechs, de bets e tudo mais”, aposta.