Em novo comercial, governo usa o discurso predileto do presidente: diz que pobres pagam mais, mas nada sobre o aumento de despesas do governo
O PT (Partido dos Trabalhadores) publicou na 6ª feira (27.jun) um novo vídeo de propaganda na internet em que intensifica o discurso de enfrentamento entre pobres e ricos. O mote é um dos preferidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: os pobres pagam muitos impostos, os ricos quase nada.
A propaganda circula nas redes sociais com imagens que aparentam ter sido geradas por IA (inteligência artificial). O Poder360 procurou o PT para confirmar a técnica utilizada. Quando houver resposta, este texto será atualizado.
No vídeo, os pobres são retratados como figuras abatidas, carregando grandes sacos com a inscrição “imposto” nas costas. Já os ricos aparecem como homens brancos, de terno, segurando pequenos sacos com o mesmo rótulo.
O comercial intercala essas imagens com a narração de um locutor. Eis o texto lido na peça, na íntegra:
“No Brasil, quem vive de salário sempre carregou o maior peso dos impostos. É taxa no pão, no gás, na luz, no remédio da vó e até sobre a pouca renda. J
“Já quem tá no topo, os super ricos, esses sempre pagam proporcionalmente bem menos. Imposto é necessário, mas justiça também é.
“Por isso, o governo Lula quer virar esse jogo com o novo IR, fazendo super ricos e site de aposta pagarem mais para investir em quem mais precisa.
“Taxação BBB dos bilionários, bancos e bets. Novo IR é justiça histórica, justiça de verdade. Mostre que você tem inteligência, mas não é artificial.
“Lute por justiça. Espalha esse vídeo por aí.
A retórica lembra discursos do século 20, em que o proletariado é tratado como moralmente superior e guiado por um Estado que promete corrigir desigualdades estruturais.
O “novo IR” citado na propaganda, mas o governo do presidente tem enfrentado resistência no Congresso em relação à taxação dos mais ricos para compensar a isenção do IR para os rendimentos de até R$ 5.000. A previsão é que o projeto seja analisado na Câmara e no Senado no 2º semestre.
Em 2025, cerca de 43,4 milhões de brasileiros declararam IR. Com a nova regra, esse número cairia para 15 milhões, numa população economicamente ativa de 106 milhões.
Líderes do Congresso criticam a estratégia fiscal do governo. A avaliação é que, nos dois primeiros anos do 3º mandato de Lula, o Palácio do Planalto aumentou os gastos públicos sem apresentar propostas relevantes de corte de despesas.
Programas sociais como o Bolsa Família são considerados importantes, mas há questionamentos sobre a gestão. Auditores identificaram fraudes que geram perdas estimadas em R$ 11 bilhões por ano, como casos de beneficiários que omitem o estado civil para receber valores maiores.
Recentemente, o presidente e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) sofreram derrota no Legislativo. O Congresso derrubou uma MP (Medida Provisória) que aumentava impostos e um decreto que revogava parte do reajuste do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
As medidas haviam sido previamente acordadas durante reunião entre a Fazenda e a cúpula do Congresso em 9 de junho.
Apesar dos gestos de boa vontade trocados no dia entre os envolvidos, o entusiasmo foi arrefecendo ao longo do tempo e a insatisfação entre congressistas e o mercado aumentou a pressão contra as medidas do governo.
A intenção de Haddad era aumentar a arrecadação para garantir o equilíbrio fiscal. Com a derrubada das medidas, o governo estuda alternativas, como buscar novas fontes de receita, recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a decisão do Congresso ou fazer cortes adicionais no Orçamento.
Leia mais: