Por Paulo Sá
A detenção de Daniel Vorcaro pela Polícia Federal e a decisão do Banco Central de liquidar o Master colocam em xeque títulos, depósitos e negócios envolvendo o banco — e reacendem o debate sobre regulação, garantias e riscos políticos.
Na manhã de 18 de novembro de 2025 a Polícia Federal prendeu o empresário Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, em operação que investiga a emissão de títulos de crédito supostamente irregulares. No mesmo dia, o Banco Central (BC) decretou a liquidação extrajudicial da instituição, medida que interrompe as atividades do banco e abre o processo de pagamento de credores via liquidante. A ação da PF e a decisão do BC encerram uma sequência de eventos que incluía tentativas de venda do banco (envolvendo o BRB e outros interessados) e anos de captação via títulos de alto rendimento. 
Linha do tempo — fatos essenciais (cronologia baseada em coberturas dos principais veículos)
• Mar/abr/mai 2025: negociações e due diligence: o BRB (Banco de Brasília) negociou a compra de controle do Master; processo passou por due diligence e houve intensa cobertura sobre que parcela de ativos seria transferida. Reuters cobriu interesse do BRB e possíveis ajustes no preço/escopo.
• Set 2025: Banco Central rejeitou a operação de aquisição pelo BRB, apontando riscos regulatórios, o que deixou o Master sem a solução que vinha sendo negociada.
• Nov 17–18, 2025: Operação da Polícia Federal (batizada em reportagens como “Compliance Zero” em algumas coberturas) cumpriu mandados, prendeu Vorcaro e apreendeu bens; PF relatou bloqueios relevantes. No dia 18, o Banco Central decretou liquidação extrajudicial do Banco Master e da Master Corretora.
O que motivou a liquidação — sinais de fragilidade
As investigações apontam para emissão e comercialização de títulos com lastro e garantias questionáveis, além de um modelo de captação baseado em altas remunerações aos investidores (CDBs e títulos com rendimentos acima da média) e grande exposição a ativos de liquidez reduzida. Autoridades relataram apreensões e bloqueios que indicam investigação por fraudes em escala bilionária, com valores e operações sob investigação. Esse conjunto de fatores levou o BC a concluir pela inviabilidade continuada do banco. 
Impactos imediatos para stakeholders
Investidores em CDBs e títulos do Master
• Muitos papéis eram oferecidos como “alto rendimento”; diante da liquidação, a recuperação dependerá da ordem de pagamento definida pelo liquidante e do patrimônio efetivamente realizável. Investidores com valores até R$250 mil por CPF, em depósitos cobertos pelo FGC, têm direito a ressarcimento nos limites legais — mas quem tem aplicações acima desse teto (ou em ativos não cobertos) pode enfrentar perda parcial ou prazo longo de recuperação.
Correntistas e depositantes
• Contas correntes típicas costumam ter proteção e prioridade maior, mas a suspensão de operações e bloqueios podem gerar atrasos em saques e transações. É essencial que correntistas acompanhem comunicados oficiais do BC e do liquidante.
Credores e fornecedores corporativos
• Empresas que emprestaram recursos ao Master ou que dependem de linhas de crédito podem ver contratos renegociados ou bloqueios temporários.
• O liquidante terá a missão de mapear ativos vendáveis e pagar credores segundo a ordem legal.
Fundo Garantidor de Créditos (FGC)
• O FGC já foi citado pela imprensa como potencial mecanismo de ressarcimento para certos credores — a ativação do FGC pode ocorrer dentro dos limites estipulados (R$250 mil por CPF/conta coberta). A eventual pressão em termos financeiros e de processo administrativo no FGC será um ponto de atenção se o número e o volume de pedidos for grande.
Riscos para o sistema e para a economia
Contágio de confiança: mesmo sendo um banco de porte médio, o colapso pode alimentar desconfiança sobre instituições que ofereçam produtos de rendimento muito acima do mercado ou que se apoiem em ativos pouco líquidos.
Pressão regulatória: em curto prazo, o BC e demais órgãos podem endurecer requisitos de transparência, classificação de ativos, regras para captação e comercialização via plataformas. Isso pode reduzir operações de alto rendimento e reapertar crédito para bancos médios.
Carga sobre mecanismos de garantia: ativação parcial do FGC e necessidade de revisão de garantias e regras, com impacto fiscal indireto se medidas extraordinárias forem discutidas politicamente.
Oportunidades (mercado e regulatória)
Aquisição de ativos “bons”: no processo de liquidação, partes saudáveis das carteiras (créditos com bom lastro, carteiras de clientes, tecnologia) podem ser adquiridas por concorrentes a preço descontado — potencial comprador incluem bancos médios e grandes players. Reuters já noticiou interesse de instituições como BTG em ativos remanescentes. 
Melhoria de governança e due diligence: o episódio tende a acelerar práticas de compliance, auditoria e disclosure financeiro nas instituições médios e pequenas.
Aprimoramento regulatório: possível atualização do arcabouço prudencial, inclusive regras sobre lastro de títulos, provimento de capital e limites de captação via plataformas.
O papel do BRB e as implicações políticas
O BRB — banco estatal do Distrito Federal — foi o principal candidato público a uma solução via compra de ativos/controle do Master. Em 2025 o BC havia indeferido a operação de aquisição, citando riscos; antes disso, decisões judiciais e questionamentos sobre a necessidade de aprovação por instâncias políticas também haviam travado o negócio. A rejeição e o subsequente colapso tornam politicamente sensível qualquer defesa do BRB ou de atores políticos que favoreceram a operação. 
Quem sai enfraquecido:
• Gestores e políticos que impulsionaram a operação BRB–Master; executivos do Master agora presos/perdidos em legitimidade; eventuais defensores públicos da operação.
Quem pode se fortalecer:
• Reguladores (Banco Central) que demonstraram rigidez e decisão de agir; bancos concorrentes que assumirem ativos saudáveis; atores políticos que criticaram o negócio e advogam por maior rigor regulatório.
Quantificação preliminar dos danos (informações ainda sob investigação)
Reportagens iniciais falam em bloqueios de valores e apreensões em centenas de milhões e investigações que mencionam cifras na casa dos bilhões relacionados a títulos suspeitos; manchetes falam em operações envolvendo cerca de R$ 12,2 bilhões bloqueados — porém números finais dependem de perícias contábeis e decisões judiciais. 
O que investidores e correntistas devem fazer agora (orientações práticas)
• Acompanhe comunicados oficiais: BC, PF, liquidante nomeado e sites de notícias de confiança.
• Reúna comprovantes: extratos, contratos de investimento, emails e prospectos — esses documentos serão essenciais em reclamações e processos.
• Registre reclamação formal: no próprio banco (quando for possível), no Banco Central (Sistema de Ouvidoria Bancária — dependendo do caso) e, se necessário, no Procon e plataformas como ReclameAqui.
• Consulte advogado especializado: especialmente investidores com aplicações acima do limite do FGC ou grandes empresas credoras.
• Evite decisões emocionais: saque precipitado de outras posições por pânico pode gerar perdas desnecessárias; avalie sua carteira com calma e, se preciso, com assessoria financeira independente.
Próximos passos esperados (curto e médio prazo)
• Nomeação e atuação do liquidante: mapear ativos, avaliar garantias e abrir processos de venda ou pagamento.
• Audiências e medidas judiciais: pedidos de recuperação de valores, ações criminais contra controladores e operadores.
• Investigações aprofundadas: perícias contábeis e cruzamento de operações envolvendo plataformas e fundos.
• Possível ação do FGC: pagamentos dentro dos limites legais aos depositantes cobertos.
A prisão de Daniel Vorcaro e a liquidação do Banco Master configuram um choque que expõe fragilidades de modelos de captação via alto rendimento e falta de lastro líquido. Do ponto de vista econômico, a maior consequência é a lição sobre governança e a provável intensificação da regulação. No plano político, o episódio fragiliza quem tentou salvar o banco por vias políticas e fortalece a narrativa de fortalecimento da atuação regulatória. Para investidores e correntistas a recomendação imediata é: documentar, acompanhar comunicados oficiais, acionar mecanismos de reclamação e procurar orientação jurídica/financeira. 
Fontes
• Agência Brasil, Reuters, Gazeta do Povo, Terra, CNN Brasil, JOTA, ConJur.




