Para prender no 8 de Janeiro, Moraes usou posts antigos de redes sociais

Reportagem afirma que integrantes do gabinete do ministro vasculharam perfis de presos nos ataques de 2023 e utilizaram publicações até de 2018 atrás para justificar manutenção da prisão

O gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), teria vasculhado as redes sociais de presos do 8 de Janeiro e usado posts compartilhados por elas, às vezes anos antes dos ataques às sedes dos Três Poderes, para decidir se deveriam continuar presas ou ser liberadas, segundo uma reportagem produzida pelos jornalistas David Agape e Eli Vieira e publicada no Public, site de Michael Shellenberger, autor do Twitter Files Brazil.

De acordo com o texto divulgado em 4 de agosto de 2025, Agape e Vieira procuraram o STF, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a PGR (Procuradoria Geral da República), o Exército, Moraes e pessoas citadas em prints de grupos de WhatsApp para pedir uma manifestação sobre o caso. Eles publicaram que nenhum dos lados procurados respondeu.

A reportagem afirma que integrantes do gabinete de Moraes usaram os posts das redes sociais para determinar se um preso tinha “certidão positiva” ou “certidão negativa”. O termo “positiva” seria entendido como “perfil suspeito”. Os jornalistas dizem que dos registrados analisados, 42 pessoas receberam certidões “positivas”, e 277, “negativas”. Eles afirmam também que nenhum preso com uma certidão “positiva” foi liberada.

Segundo Agape e Vieira, foi possível confirmar a autenticidade de 69 certidões. Eles informaram, no entanto, que não vão divulgar as íntegras por “conterem dados pessoais confidenciais dos investigados”

Não é possível verificar de forma independente a autenticidade das certidões e das conversas de WhatsApp. Em casos assim, também é comum um veículo de mídia divulgar as íntegras com tarjas em cima dos dados sensíveis –o que não foi feito.

O texto diz também que o gabinete de Moraes utilizou o sistema de biometria do TSE com dados de eleitores de todo o Brasil para identificar manifestantes em fotos dos atos do 8 de Janeiro. A autorização teria sido emitida por Moraes, à época presidente da Corte.

Procurado pela reportagem, o TSE não se manifestou.

Agape e Vieira citam em seu texto alguns casos de presos do 8 de Janeiro que receberam uma certidão “positiva” e quais posts foram identificados em seus perfis nas redes sociais.

Leia o que foi publicado na reportagem:

Copyright

Reprodução

Certidão teria sido classificada como “positiva” a partir de mensagens de 2018 com críticas contra Dilma e Lula

Copyright

Reprodução

Perfil de preso no 8 de Janeiro teria sido considerado suspeito porque ele questionou os resultados das eleições de 2022

Copyright

Reprodução

Em outro caso, certidão de homem teria sido considerada “positiva” por causa de uma publicação em seu perfil no Instagram em que a imagem diz que “cumprir a Constituição não é golpe”

CONVERSAS DE WHATSAPP

A reportagem também mostra o que seriam reproduções de conversas de um grupo no WhatsApp chamado “Audiências de Custódia”. Não é possível verificar a autenticidade das mensagens.

Nas mensagens, a chefe do gabinete de Moraes, Cristina Yukiko Kusahara Gomes, fala com Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do magistrado no TSE e investigado no STF. Ela diz que o ministro não quer soltar os presos sem antes ver se tem algo em seus perfis nas redes sociais e que pediu também para checar se eles “não participaram de grupos de zap ou Telegram pelo golpe”.

Em outro momento, Cristina pede celeridade a Tagliaferro: “Eu preciso dessa análise, feita com cautela, mas não no ritmo de vocês aí do TSE… Desculpe a expressão… O pessoal aí está mal acostumado”.

Ela diz não haver espaço para “desculpa” com Moraes.

O Poder360 o STF por meio de sua assessoria de imprensa para perguntar se a Corte tomou conhecimento do material divulgado e se gostaria de se manifestar. Não houve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso uma manifestação seja enviada a este jornal digital.


source

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *