Junho Laranja: Prevenindo Queimaduras em Tempos de Festas Juninas

O mês de junho é uma época do ano em que as cidades se agitam e os bairros se enfeitam com bandeirinhas coloridas cortando o céu. As escolas ensaiam danças típicas ao som da sanfona e do acordeom, e praticamente todos os brasileiros sacodem suas camisas xadrez, tirando-as do armário para celebrar um dos períodos mais emblemáticos do calendário nacional: as festas juninas. As fogueiras crepitam, os fogos de artifício colorem o céu outonal — já a caminho do inverno. Com todo esse encantamento que envolve o período junino, que se estende do final de maio até meados de agosto em muitas regiões, é fundamental lembrar dos perigos que o acompanham, especialmente o risco de queimaduras.

Como professora, sinto o dever de alertar pais, educadores e toda a comunidade escolar sobre os riscos de acidentes e a importância da prevenção nesse período.

Anarriê, alavantu! As quadrilhas preservam uma tradição de imenso valor cultural para o Brasil. Os grupos de dança, com suas roupas coloridas e saias rodadas, encantam o público enquanto perpetuam costumes oriundos do Norte e do Nordeste do país, difundindo assim a cultura de São João por todo o território nacional.

A decoração das festas também encanta. Bandeirinhas no céu, murais escolares repletos de desenhos juninos, barraquinhas decoradas, xilogravuras, fogueiras feitas com papel celofane — tudo pensado para retratar com carinho os símbolos da tradição.

“Rala o côco, mexe a canjica!” Quem nunca ouviu essa canção nas apresentações infantis? As comidas típicas, que coincidem com o inverno no hemisfério sul, merecem menção honrosa: pamonha, pé de moleque, paçoca, caldos, canjica… e claro, a maçã do amor e o quentão que aquece as noites mais frias. E aqui reside um ponto crucial: o cuidado com o fogo. Muitas festas possuem belíssimas fogueiras, mas, se não forem bem posicionadas e cercadas de segurança, podem causar queimaduras graves, sobretudo entre as crianças.

Lembro-me, com nostalgia e alerta, de quando morava no Rio de Janeiro nos anos 80. Naquela época, os céus se iluminavam com balões — uma prática que, embora visualmente encantadora, gerava incêndios de proporções trágicas quando os balões perdiam altitude e caíam sobre residências e áreas florestais. Desde 1998, essa prática é proibida por lei, sendo considerada crime ambiental, conforme estabelece a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998).

As queimaduras são lesões graves, com consequências que vão muito além da dor: cicatrizes permanentes, infecções severas e impactos emocionais significativos tanto para as crianças quanto para suas famílias. A prevenção é, portanto, um dever coletivo. Algumas medidas simples, mas eficazes, incluem manter distância segura das fogueiras e fogos, utilizar equipamentos de proteção (como luvas e óculos), supervisionar constantemente as crianças e evitar materiais inflamáveis próximos ao fogo.

Uma antiga lenda diz que os fogos de artifício soltados em 24 de junho são “para acordar São João”. Conta-se que, se ele visse as fogueiras acesas em sua homenagem, não resistiria e desceria à Terra. Lendas à parte, os fogos e rojões, por mais encantadores que sejam, representam sérios riscos: queimaduras, amputações, perda de visão, danos auditivos e traumas psicológicos. Além disso, o barulho gerado pode causar estresse em animais, bebês, idosos e pessoas neurodivergentes. O ruído prolongado e intenso é fator de risco para ansiedade, crises sensoriais e até surdez.

É essencial educar nossas crianças não apenas sobre os riscos das queimaduras, mas também sobre os impactos negativos do barulho dos fogos. Os registros hospitalares neste período revelam números alarmantes de acidentes. Felizmente, diversas campanhas educativas são promovidas por prefeituras e por organizações da sociedade civil para aumentar a conscientização sobre a segurança nas festas juninas.

Um exemplo louvável é o dos Escoteiros do Brasil, que abraçaram a campanha “Junho Laranja – Queimaduras? Na minha casa não!”, com o objetivo de conscientizar crianças e jovens — lobinhos, escoteiros, seniores e pioneiros — sobre os riscos das queimaduras no ambiente doméstico. Desde 2009, o dia 6 de junho é reconhecido como o Dia Nacional de Luta contra Queimaduras, por meio da Lei nº 12.026. Cabe a toda a sociedade prevenir, educar e agir para evitar esse mal irreversível.

Discutir, reduzir, repensar e — acima de tudo — brincar com segurança: eis o lema para um São João pleno de alegria e sem sustos. Igrejas, escolas, associações comunitárias, todos se unem para celebrar este tempo tão simbólico, que movimenta também a economia local, com barracas, bandas e apresentações típicas. O forró pé de serra, o universitário e tantos outros estilos encantam os festeiros com sua musicalidade e tradição.

Cabe a nós orientar, educar e prevenir para que a diversão ocorra de forma responsável e segura. Já sente o cheiro do milho assado? O sabor da canjica vem à memória? Está pronto para a pescaria e a festança? Pois eu já separei meu vestido de caipira — e você, já preparou seu traje típico? Que seja uma festa de alegria, cuidado e celebração da vida.

Adriana Frony, professora, administradora, especialista em gestão escolar, mídias sociais, mestranda em ciências da educação, escoteira, palestrante e mentora com mais de 30 anos de experiência na educação, dedicou-se a transformar a aprendizagem em uma experiência alegre e significativa para seus alunos. Acredita que educar é um ato de coragem e amor, que deve ser vivido com liberdade e criatividade. Contato: espacodeaprendizagemintegrada@gmail.com

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