Governo Lula adota pronome neutro ‘todes’ em eventos
A primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e cerimonialistas usaram a palavra “todes” em cerimônias ao longo desta primeira semana do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Apesar do uso de “todes”, a atual ministra do Turismo, quando deputada federal, Daniela Carneiro (União Brasil), foi coautora de um projeto de lei que busca vedar a utilização de linguagem neutra por escolas públicas e privadas.
“Todes” não faz parte das normas oficiais da língua portuguesa. No entanto, vem sendo utilizada como um pronome neutro para se dirigir a pessoas não binárias — que não se identificam exclusivamente com o gênero masculino ou com o gênero feminino.
O termo é incentivado pelo público LGBTQIA+ como forma de inclusão. O pronome “todes” já foi utilizado em post no Twitter pelo Museu da Língua Portuguesa, em 2021. Naquele mesmo ano, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a proibir o uso da linguagem neutra em projetos financiados pela Lei Rouanet.
A professora do Departamento de Linguística do Instituto de Letras da Universidade de Brasília (UnB), Ormezinda Maria Ribeiro, afirma que o uso de “todes” está mais relacionado à uma questão ideológica do que linguística. Isso porque o pronome masculino na língua portuguesa já é neutro e já responde por todos, inclusive os não-binários, explica.
A professora diz que o uso de palavras chamadas de neutras não é unanimidade dentro da academia. A língua vai sendo transformada ao longo do tempo e a escolha do uso ou não dessas palavras é um direito dos governantes, mas não deve haver uma imposição, avalia.
A seu ver, se for utilizada uma palavra com o objetivo de se buscar a neutralidade, como “todes”, todo o texto ou toda a fala da pessoa deve seguir a mesma linha com adaptações. Para isso, todos os pronomes e substantivos que tenham gênero masculino e feminino na língua portuguesa teriam que ter uma nova alternativa tida como neutra. “Ou seja, teria que alterar a língua por inteiro.”