Afinal, esfriou, mas o que fazer em um feriadão gelado? O que será que se comemora na Finlândia quando tem um feriadão? Será que eles falam:
“Vamos subir uma montanha de neve e escorregar o bumbum no gelo?”
“Vamos ver o urso polar andando solto, de bobeira pelas ruas?”
Nesses países que é inverno o ano inteiro, qualquer dia sem neve deve ser tipo domingo na praia para nós. Imagina, você em casa com seus dez moletons e do nada é possível ver um pássaro cantando na ponta de um árvore que você descobre que é um pinheiro, você fica sabendo que embaixo da neve tem terra da cor preta, vermelha, amarela, etc. O mundo fica menos branco de uma hora para outra. Eu com certeza iria fazer um churrasco ao ar livre ouvindo Zeca Pagodinho. Ou então tomar um banho de cachoeira. Bom eu não sei nem se tem cachoeira nesses cantos porque eu nunca visitei, o lugar mais frio que eu já fui foi em Foz do Iguaçu, em junho porque eu voltei em janeiro e descobri que o calor do Piauí foi fabricado na usina de Itaipu.
O segredo para se esquentar no frio é comer. O brasileiro ama festa junina, a nossa cultura gira entorno do prato e nesse mês é tudo quente. Canjica, caldo e quentão, aí cada região vai acrescentando as comidas do cardápio local, hoje não tem comida tipica, tudo é possível comer durante uma festa junina, até crepe, que é francês, mas deram um jeito de contrabandear. O auge são as quadrilhas, mega animadas, ensaiadas, com roupas coloridas, passos irreverentes e até um teatro onde sempre tem um padre, casal de noivos e geralmente um corno ou um homem armado querendo vingança, parece a realidade, mas é pura ficção. Tem também o bingo que vale a emoção de ganhar e não o brinde, na última festa que fui, dentro da igreja, o padre estava bingando uma jarra de suco de pêssego. De onde vieram os pêssegos? Do verdurão ou das fazendas Tang? O pessoal fervoroso gritava todo número que acertava, até eu fiquei com vontade de ganhar o suco e experimentar. O povo gosta do bingo pela chance de ganhar, não importa o prêmio. Uma vez eu ganhei uma caixa de cerveja e um frango assado, eu tinha 12 anos.
Analisando aqui, o que ajuda a esquentar nesse frio é dançar agarradinho. Por isso toca forró em todo lugar nessa época. Aí me pego pensando, o que o povo deve escutar lá em Vladvostock, na Rússia, que deve ser frio pra caramba. Em Portugal, eles chamam a seresta de estica braço, no Chile tema famosa bachata. No mundo todo deve ter uma dança que se joga os pés dois pra lá, dois pra cá.
Se o frio está lhe incomodando, eu sugiro ter uma companhia bem quentinha, assim como eu sou para minha amada. Meu tecido adiposo e meus pelos, exceto na cabeça, ajudam a esquentar meu amor embaixo das cobertas. Eu espero que santo António ouça suas preces e que lhe dê um cobertor de orelhas, ditador popular que eu não sei o significado.
Fui. Tô morrendo de frio
Abraços quentes.
Thiago Maroca é escritor, membro da Academia Valparaisense de Letras, produtor audiovisual, mestre em educação, escoteiro, pai do Théo e uma meia dúzia de coisas que não cabem nesse espaço.
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