Especialista explica detalhes sobre cirurgia de redesignação sexual em pessoas trans

No mês em que se comemora o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, especialista explica sobre a cirurgia, requisitos e pós-operatório

No dia 28 de junho é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, uma data marcada mundialmente pela luta contra o preconceito e pela conquista de direitos. Entre os avanços mais significativos, destaca-se o reconhecimento da identidade de gênero como um direito humano fundamental. Na área da saúde, isso se reflete em procedimentos como a cirurgia afirmativa de gênero, também conhecida como redesignação sexual, que permite alinhar os órgãos genitais à identidade de gênero da pessoa trans –, contribuindo para o bem-estar, a autoestima e o direito à autodeterminação.

“A cirurgia afirmativa de gênero é um procedimento cirúrgico realizado para adequar os órgãos genitais do sexo biológico do indivíduo ao gênero pelo qual o paciente se identifica”, explicou o urologista especialista em reconstrução genital e chefe do Departamento de Cirurgia Afirmativa de Gênero da Sociedade Brasileira de Urologia, Dr. Ubirajara Barroso Jr.

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Reprodução educacaomedica.afya.com.br

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Nos homens trans, essa cirurgia é indicada para a construção de um pênis, sendo um processo personalizado, em que o médico precisa avaliar cada caso individualmente. Segundo o urologista, cerca de 35% dos homens trans e 70% das mulheres trans optam por fazer o procedimento. Ubirajara Barroso Jr. foi o médico que liderou a primeira cirurgia afirmativa de gênero da Bahia pelo SUS em agosto de 2023 e é autor da técnica de mobilização total dos corpos cavernosos (TCM), um tipo de metoidioplastia que confere um pênis maior.

Como é feita a cirurgia afirmativa de gênero em homens trans
“Em homens trans, a cirurgia pode envolver técnicas como a metoidioplastia, que consiste no descolamento do clitóris e correção da curvatura genital para criar um falo maior, ou a neofaloplastia, um procedimento mais complexo que utiliza tecido de outras partes do corpo para criar um pênis”, explicou Dr. Barroso.

Ao se utilizar a metoidioplastia é possível aplicar a técnica de mobilização total dos corpos cavernosos (TCM) para construção de um órgão que permita penetração. A TCM foi desenvolvida pelo Dr. Ubirajara Barroso Jr. em parceria com a Divisão de Urologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. A técnica foi publicada em 2022 no International Brazilian Journal of Urology (IBJU), revista científica oficial da Sociedade Brasileira de Urologia.
Na metoidioplastia clássica, a ereção é possível, porém muitas vezes o falo fica pequeno, impossibilitando a penetração.

“Com a técnica de TCM esse quadro é revertido pois o tamanho do falo fica maior, possibilitando a penetração”, descreveu Dr. Barroso. “A neofaloplastia é um procedimento mais complexo realizado com tecido do antebraço, pele abdominal, perna, ou outros tecidos. A vantagem é que esse procedimento possibilita um falo de bom tamanho. Porém, a desvantagem é que para a penetração será necessário o uso de prótese peniana, podendo ter a sensibilidade reduzida em alguns casos”, disse.

Cirurgia de cirurgia afirmativa de gênero em mulheres trans
Nas mulheres trans, a cirurgia afirmativa de gênero é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção do pênis e na construção de uma neovagina, com a confecção do clitóris, da uretra e do canal vaginal. De acordo com Dr. Ubirajara Barroso Jr., o procedimento chamado de clitoroplastia é realizado por meio da redução da glande, preservando-se a sua inervação e vascularização e, consequentemente, mantendo a sensibilidade.

“Nesse procedimento são removidos parte do pênis, preservando a uretra, a pele e os nervos que dão sensibilidade à região e é construída uma neovagina e um neoclitóris”, explicou. O médico complementou que quando não há pele genital suficiente, como nos casos de cirurgia de fimose, ou nos casos de perda do canal vaginal na primeira cirurgia, a melhor opção é utilizar o peritônio, tecido que recobre os órgãos e parede abdominais. Outra opção é a utilização da alça intestinal. Em ambos há bons resultados, mantendo a sensibilidade erógena na paciente.

“Cerca de 60% a 70% das mulheres trans alcançam o orgasmo com a cirurgia afirmativa de gênero. A diferença é que a sensibilidade e a forma de prazer se tornarão diferentes daquela antes da cirurgia afirmativa”, afirmou. O médico informou que após a realização da cirurgia nas mulheres trans é necessário a dilatação vaginal diária, por pelo menos 30 minutos, por, provavelmente, toda a vida. Principalmente se não houver atividade sexual com penetração frequente.

Pós-operatório da cirurgia afirmativa de gênero
O tempo de recuperação para a cirurgia afirmativa de gênero é breve e a internação é de cerca de 2 a 3 dias para mulheres trans. No caso dos homes trans, após a cirurgia afirmativa de gênero é normal que alguns pacientes sintam algum desconforto, inchaço e sensibilidade na área operada, sendo necessário o uso de medicamentos para aliviar a dor e reduzir o inchaço na região.

“O paciente não necessita ficar na UTI e a internação dura cerca de 5 dias. Após a alta, o paciente sai andando e pode subir e descer escadas normalmente”, explicou o médico lembrando que é importante seguir algumas recomendações de restrições do pós-operatório a fim de se evitar complicações:
– O paciente não poder fazer exercícios pelo período de 1 mês;
– Relações sexuais após dois meses da intervenção;
– É imprescindível manter uma boa higiene local;
– O paciente deve comparecer as consultas de acompanhamento para garantir que a recuperação esteja ocorrendo conforme o esperado.

Entenda os requisitos para cirurgia de afirmação de gênero
Por ser irreversível, o Dr. Barroso destacou que antes de realizar a cirurgia afirmativa de gênero, os pacientes passam por um rigoroso acompanhamento multidisciplinar incluindo a avaliação psicológica, sendo considerados fatores como a idade mínima, estabilidade emocional e a participação em terapia hormonal.

“Para iniciar o processo terapêutico e realizar hormonização é necessário ser maior de 18 anos, e já ter vivência com o gênero que se identifica para realização de cirurgias de afirmação de gênero”, explicou o urologista.

 

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