Antes de começar, quero introduzir o conceito etimológico popular, boca de sacola é o nome dado a quem tem a boca grande, conta tudo e algumas vezes não guarda segredo.
Muitas vezes não é por maldade, está na personalidade de alguns. Eu me considero um boca de sacola, mas, no fundo, eu sempre penso que a maioria das coisas não é segredo para ninguém, muitos fantasiam histórias que todo mundo já sabe. Quanto aos segredos da vida conjugal alheia, uma rápida leitura de Shakespeare a Nelson Rodrigues revela a falta de originalidade do tema, com a notável exceção do pastor que ousou passear de calcinha e peruca. Herança, adultério, drogas e problemas com a lei, todos estamos suscetíveis a passar, mesmo que você guarde segredo, a vida vai revelando. Espionagem é outro assunto, envolve preparação, minuta e um objetivo em comum, mas se tiver muita gente envolvida não é segredo para ninguém, basta ver as operações policiais que sempre pegam as drogas e não os traficantes, não culpo o envolvimento do crime com a segurança pública, acho que às vezes tem um boca de sacola na delegacia que fica animado por uma aventura e acaba falando demais, simples assim.
Fofoca é outra coisa, sempre envolve os detalhes da vida alheia, coisas boas ou ruins, uma vez tive que fingir naturalidade por já estar sabendo que uma conhecida estava com outra pessoa, mas ainda morando com o ex, e o pior, ela manteve a relação por um tempo e no final decidiu ficar o ex que agora é mais que atual, eu escrevo aqui para que eu não tenha um troço neste assunto, agora dormirei melhor sabendo que alguém escolheu ser traído e viver em paz, o que é mais comum do que a gente imagina. Mas eu não sou tão vilão assim, pode perguntar lá em casa, quando alguém diz que tem um segredo e pede para não contar a ninguém, eu escuto e esqueço de uma vez. Considero uma virtude o meu esquecimento, que, felizmente, me permite refletir melhor para o bem de todos. Um dia, ao ouvir uma história de outra pessoa, lembro-me de já tê-la escutado em algum lugar, de algum famoso, com certeza.
Não aceito que me chamem de fofoqueiro, até porque, geralmente é a pessoa que inventa um pouco sobre a história contada, eu divido o fofoqueiro em duas pessoas: O informante e a superstar. O informante é aquele fofoqueiro que traz conteúdo relevante, tipo fiquei sabendo de um comerciante que batia na esposa, parei de comprar e indicar o negócio, quero vá à falência, sobre a esposa, creio que tem meios dela sair dessa situação, se um dia me pedir ajudar e aceitar estarei disposto a ajudá-la. O Superstar é diferente, tá mais para mentiroso mesmo, inventa história, cria situações e muitas vezes com riquezas de informações que faz os mais novatos no ramo da fofoca, acabarem acreditando, mas com o tempo vem a classificação e a fama de cada jornalista da vida alheia e assim vamos eliminando qualquer assunto que saia da boca de uma pessoa que mais inventa do que apura. O Superstar só quer a atenção e usa o argumento de ter algo a contar para isso, poderia muito bem ser um escritor (sempre tem vaga) e viver mais feliz.
Por fim, a comunicação oral é item de sobrevivência do brasileiro, nós temos palavras específicas e muitas variações para o mesmo assunto. Conversar deve sempre estar acompanhado de uma momento de prazer e descontração, fora de sala de reuniões.
Se você tiver uma fofoca para me contar, eu quero saber.
Fui!
Thiago Maroca é escritor, cineasta e “curioso”, apaixonado pela e por histórias. Fofoqueiro, jamais.
Manda um oi: @thiagomaroca / thiagomaroca@gmail.com