Segundo Karen Attiah, o “Washington Post” teria dito que suas publicações em seu perfil foram “inaceitáveis”
Karen Attiah, articulista do jornal norte-americano The Washington Post, disse ter sido demitida por comentários feitos nas redes sociais depois do assassinato do ativista de direita Charlie Kirk. Ele foi morto aos 31 anos, no dia 10 de setembro, durante um evento na Universidade Utah Valley, nos Estados Unidos.
Attiah, que trabalhou por 11 anos na seção de opinião do jornal, publicou um artigo na plataforma Substack, na 2ª feira (15.set.2025), em que afirma ter perdido o emprego por “denunciar a violência política, os padrões raciais dúbios e a apatia dos Estados Unidos em relação às armas”.
Ela disse que está sendo silenciada por ter expressado “tristeza e medo” pelos EUA e republicou as postagens que fez em seu perfil no Bluesky em 10 de setembro, pelas quais diz ter sido demitida.
“Condenei a aceitação da violência política nos EUA e critiquei suas respostas ritualizadas –os vazios e clichês ‘nossos pensamentos e orações’ e ‘isso não é quem somos’– que normalizam a violência armada e absolvem especialmente homens brancos que cometem tais atos, enquanto nada é feito para frear as mortes. Expressei tristeza e medo pelo futuro dos EUA”, declarou Attiah.
“Cumpri meu dever jornalístico ao lembrar que, apesar das conclusões partidárias e apressadas do presidente [Donald] Trump [Partido Republicano], nenhum suspeito ou motivo havia sido identificado no [caso do] assassinato de Charlie Kirk –mantendo a cautela mesmo ao condenar o ódio e a violência”, afirmou.
Eis as publicações que, segundo Attiah, causaram sua demissão:
De acordo com Attiah, o Washington Post disse que suas postagens foram “inaceitáveis”, constituindo “má conduta grave” e colocando “em risco a segurança física” de colegas.
“Acusações sem provas, que rejeito completamente como falsas. Eles se apressaram em me demitir sem sequer ter uma conversa –alegando difamação racial. Isso não foi apenas um exagero precipitado, mas uma violação dos próprios padrões de imparcialidade e rigor jornalístico que o ‘Post’ afirma defender”, declarou a articulista.
“Eu era a última articulista negra em tempo integral no ‘Post’, em uma das regiões mais diversas do país. Washington D.C. não tem mais um jornal que reflita as pessoas a quem serve. O que aconteceu comigo faz parte de um expurgo mais amplo de vozes negras da academia, dos negócios, do governo e da mídia –um padrão histórico tão perigoso quanto vergonhoso– e trágico”, disse Attiah.
Ela finalizou seu artigo no Substack divulgando um curso on-line que coordena sobre raça e mídia.
Um porta-voz do Washington Post disse ao jornal digital Politico que não irá se manifestar sobre a demissão de Attiah.
As regras do Washington Post em relação ao uso de redes sociais públicas exigem que os funcionários do jornal garantam que quaisquer postagens não levem “pessoas razoáveis a questionar a independência editorial nem a questionar a capacidade do ‘Post’ de cobrir questões de forma justa”.
A seção de opinião do Washington Post tem sido remodelada ao longo de 2025 depois de uma determinação de Jeff Bezos, dono do jornal, para se concentrar no apoio às “liberdades pessoais e mercados livres”.
CASO EDUARDO BUENO
No Brasil, o escritor Eduardo Bueno publicou nas redes sociais que “é terrível um ativista ser morto por ideias, exceto quando é Charlie Kirk”. O vídeo foi criticado, inclusive por deputados. Bueno divulgou outro vídeo em seu perfil no Instagram no sábado (13.set), afirmando que havia cometido deslizes, mas que a retratação era seguida por um “rosário de poréns”.
No domingo (14.set), Bueno declarou que errou na forma ao falar sobre a morte de uma “figura horrorosa e desprezível”, negou ter celebrado a morte de Kirk e voltou a criticá-lo.
“Eu não festejei o assassinato dele e nem louvei o assassino. O que eu quis dizer, e digo de novo porque acredito nisso e repito: o mundo fica melhor sem determinadas pessoas. E o mundo, na minha opinião, ficou melhor sem a presença desse cara. O problema é que eu disse isso no dia da morte dele (…), e o tom, a forma, foram totalmente inapropriados. Admito isso, plenamente”, disse.