A moda me persegue

Sempre me pego tentando acompanhar, mas parece que estou sempre uma década atrasado. No que diz respeito à moda, já não sei o que está em alta. Entro nas lojas de departamento e, quando penso que as estampas de flores estão na moda, tudo mudou para desenhos de praia. Se compro algo com estampa de praia, logo a moda muda para roupas manchadas e rasgadas. E agora, calças acima do umbigo, que na minha juventude eram consideradas bregas, estão em alta. O que funciona mesmo é: jeans, camiseta e tênis, o combo perfeito do dia a dia. Casamento eu não o que se usa mais, mas se me convidarem vou continuar indo de terno, sempre na cor preta, porque se algo der errado eu finjo que sou o garçom ou o segurança, esses eventos mais chiques colocam o tipo de roupa para vestir, na minha cabeça se não pode usar jeans é melhor ir de terno.

Outra coisa que percebi que está na moda é ser hipocondríaco, se bobear, no Tinder, deve ter uma aba para você colocar os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID). Imagina aí, você buscando algo para um sábado a noite, marca um encontro numa festa ao livre e o príncipe encantando dando crise de rinite devido à poeira. Não tem tesão que sustente a vontade de querer dar um beijo. Todas as pessoas que eu conheço parecem que precisam fazer ou fizeram recentemente alguma cirurgia. Eu mesmo tô pensando em fazer implante de cabelo. Alô SUS! Me avise quando começar.

Ainda tem as modas que surgem na internet, a palavra certa entre os jovens é “trend”, tá bom de começarmos a usar os termos em chinês, nesse caso é “Shíshàng”. Tudo começou com ideias de edições de vídeo criativas, como transições mágicas onde um toque na câmera te teletransportava para outro lugar. A moda evoluiu, e agora você espirra e aparece na praia! Por mais que eu tente, nunca consigo. O jeito é parcelar passagens e guardar dinheiro para ao menos ter roupas novas, senão vão pensar que é um “TBT” – um termo para quando bate aquela saudade.

A moda que eu menos simpatizo é a da malandragem, que começa com o jovem, classe média falando igual um marginal, como se fosse um coitado criado a margem do sistema, abandonado à própria sorte, tendo que vender doces no sinal para sobreviver e termina com um adulto mimado falando como se fosse membro de uma facção criminosa. Geralmente, somos nós os homens que agimos assim, deve ter um fundo de verdade isso tudo.

Somos roubados por tubarões e nada podemos fazer. Tinha até a história de um sujeito que vivia falando de família, Deus e honra, zombando dos outros. Mas quando a polícia o abordou, ele quase chorou de emoção — só que, neste caso, o CID era de parada cardíaca. Para outros, a visita da polícia já virou TBT. A moda que ainda não pegou no Brasil é a de prender políticos. Outra moda que eu torço para pegar é a de o povo parar de achar que existe algum santo nesta terra.
Beijo, Fui.

Thiago Maroca é escritor,um cara fora de moda, mestre em educação,produtor audiovisual, mestre em educação, escoteiro, pai do Théo e uma meia dúzia de coisas que não cabem nesse espaço.
Manda um OI:@thiagomaroca / thiagomaroca@gmail.com

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