Mãe, você viu minha calça? Pai, você me leva ao dentista? Mãe, tô querendo pendurar um Labubu na minha bolsa… Mãe, o Juninho pegou nas minhas canetinhas especiais!
Temos presenciado falas, cenas e hábitos, antes comuns às crianças, por adultos atuando como as crianças atuariam. A infantilização dos adultos é o ato de tratar um adulto ou adolescente como se fosse uma criança, por meio de comportamento um tanto infantil para a fase que a pessoa está, assim como a linguagem ou expectativas que não condizem com a idade, resultando em sentimentos de desrespeito e falta de autonomia. Todavia, o que esperar quando a pessoa adulta está se comportando como uma criança com hábitos e costumes pertinentes a uma faixa etária bem mais jovem que a sua?
Entendo que a oferta de produtos infantis que temos visto hoje em dia realmente encanta a todos os públicos e idades. Há um mercado que absorve tendências como livros de colorir, bonecos para pendurar nas bolsas e mochilas e tantas outras modas que dá vontade de voltar no tempo e adquirir tudo em quantidades inimagináveis.
O estresse da vida no século XXI causado pela pressão do trabalho e da vida pessoal tem sido um dos causadores da infantilização do adulto. Não deixa de ser uma forma de escape e relaxamento da pressão decorrente do cumprimento de metas e resultados da vida adulta. Ainda há o apelo da mídia, a nostalgia da época infantil e a sensação de liberdade ao pintar um desenho ou ao brincar de boneca fossem elas, Meu bebê, Barbies ou Max Steel. Cada um de nós busca uma forma de relaxar e esse comportamento tem aumentado muito entre diversos adultos no mundo todo.
Desde as mandalas para colorir até os livrinhos do Bobbie Goodies, adultos tem se distraído, desestressado e relaxado com essa prática. O livro Jardim Secreto foi o primeiro livro de “arteterapia” voltado para o público adulto. A febre pelos livros de colorir começaram em 2013 e seguem firmes até os dias de hoje. A Lego, marca líder no quesito blocos de montar, já investiu nos brinquedos para adultos com caixas de peças sobre filmes como Harry Potter, Star Wars e recentemente com flores para montar que são uma verdadeira obra de arte. Quanto aos brinquedos ao alcance das mãos temos os jogos para celular como Candy Crush que deixaram e ainda deixam adultos de várias idades por horas a fio a transpor fases e desafios para destruir frutas e bombinhas. Já os bonecos para pendurar nas mochilas, esses sim, elevaram o patamar severamente dos chaveiros infantis.
Mas afinal, o que é um Labubu? O Labubu é um boneco de pelúcia criado pela artista japonesa Morem, conhecido por seu design fofo e expressões adoráveis. Esses bonecos têm se tornado uma febre entre os fãs de kawaii (cultura japonesa de coisas fofas) e colecionadores de itens de luxo. Sim, um simples boneco para enfeitar quartos e, ou bolsas e mochilas e pode custar alguns bons dólares. O uso desses bonecos pendurados nas bolsas adultas podem performar os interessados que os usa, o tornando popular, e, no auge da moda. Melhor dizendo, “hypado”.
Explico. O termo “hypado” “ou estar hypado” significa que algo ou alguém está em alta, recebendo muita atenção, entusiasmo e comentários, seja ele um produto, uma série, um evento ou uma pessoa. O termo em questão vem do inglês “hype”. Esse termo “Hype” pode descrever uma tendência, um estado de euforia coletiva ou a ação de se empolgar muito com algo.
Imagino que os leitores da coluna possam estar se perguntando, por que os bonecos pendurados nas bolsas estão tão populares? Uma forma de expressar popularidade, além de ser um acessório da moda e ainda item de colecionador. Alguns Labubus são raros e limitados o que os torna mais valiosos.
Há muitas consequências em decorrência da Infantilização dos Adultos. A dificuldade em lidar com os problemas e desafios da vida adulta, o impacto na autoestima e autoconfiança, a perda da maturidade e responsabilidade além da mudança nos padrões de comportamento e nas relações sociais. Um adulto com um comportamento infantilizado já tem nome. Ele se chama Kidult, e é uma combinação de “kid” (criança) e “adult” (adulto), e se refere a adultos que mantêm uma mentalidade ou comportamento infantil, mesmo após a idade adulta. De forma nenhuma há aqui uma crítica quanto a preferência por atividades infantis por parte dos adultos. O interesse por filmes de super-heróis, quadrinhos, videogames, desenhos animados não nos torna infantilizados. Contudo, um comportamento habitual brincalhão, mas voltado ao farfalhão, assim como a aversão às responsabilidades de um cidadão adulto, isso torna todo um comportamento preocupante para a nossa sociedade. Há vantagens em um comportamento kidults, pois, adultos que demonstram tal comportamento podem ser mais criativos, espontâneos e abertos a novas experiências. No entanto há severas desvantagens, pois, a infantilização excessiva pode levar a problemas de responsabilidade, maturidade e dificuldade nos relacionamentos. Ainda há os bebês reborn, o uso das chupetas para adultos em várias partes do mundo como Japão, China, Estados Unidos. Coréia do Sul como forma de lidar com estresse, ansiedade ou carências afetivas.
A infantilização dos adultos vem em contraponto a adultização das crianças. Ainda caberá muitos estudos a respeito desses comportamentos antagônicos. A ideia de retornar à infância através do uso de produtos ou de determinados comportamentos pode ser “prazerosa e segura”, contudo, fica a reflexão: de que forma estamos educando as gerações seguintes a nossa?
Adriana Frony, professora, administradora, especialista em gestão escolar, mídias sociais, mestranda em ciências da educação, escoteira, palestrante e mentora com mais de 30 anos de experiência na educação, dedicou-se a transformar a aprendizagem em uma experiência alegre e significativa para seus alunos. Acredita que educar é um ato de coragem e amor, que deve ser vivido com liberdade e criatividade. Contato: espacodeaprendizagemintegrada@gmail.com
