“Vocês estão ansiosas, não estão me ouvindo…” — disse o coach enquanto tentava sincronizar as palmas do time junto das dele. Estava um caos. Pelo que me lembro, era um descompasso terrível, como se cada uma estivesse em uma frequência diferente. Mas, aos poucos, os ânimos se acalmaram, a respiração encontrou seu ritmo e a concentração quase pegou fogo. E foi aí que o som do cavalo ecoou nos quatro cantos desse mundo. Chovia, fazia frio no corpo, mas o coração já estava aquecido.
Jogar flag football é mais do que correr atrás de pontos. É um ensinamento que a gente carrega para a vida inteira. O esporte nos permite sentir a vibração daquilo que não se explica: o medo está ali, à espreita, mas você pode driblá-lo com criatividade. A cada jogada, a gente aprende que coragem não é ausência de medo… é enfrentá-lo e transformá-lo em movimento. É descobrir caminhos até o propósito, seja ele qual for.
“Não é sobre um, é sobre um time, é sobre isso” (Selminha, 2025) – Essa frase ficou marcada na minha memória como um mantra. Nós gritávamos na derrota, gritávamos na vitória, porque no fim não havia diferença: o grito era de união. Não tinha tempo ruim, não tinha vilão ou sombra que suportasse tamanha força de nós seis, que se multiplicava em tantas outras. Quem esteve conosco, mesmo de fora, se sentiu parte também. Era como se todos vibrassem no mesmo coração. Esse foi o nosso legado naquele instante: fazer do momento uma eternidade.
Divertir. Essa é uma palavra que usamos pouco. Já reparou? Foco, esforço, meta, disciplina… Essas sim têm marketing de sobra. Mas e o divertir? Por que quase sempre esquecemos dele? Divertir não significa “não levar a sério”. Pelo contrário: é se entregar ao presente como se fosse único. Foi assim que compreendi o que havia perdido no meio do caminho. E hoje, ao olhar a medalha, sinto orgulho. Não apenas pelo que conquistamos, mas pelo que eu mesma permiti viver e dedicar ao time.
Para quem não conhece, o Flag Football é uma vertente do futebol americano que vem ganhando força no Brasil. Praticamente todos os estados já têm times surgindo, crescendo, criando legados silenciosos que, aos poucos, viram histórias grandiosas. É um esporte de resistência e também de estratégia, onde a força não está só no corpo, mas no raciocínio, na leitura do jogo, na coragem de inventar. Talvez por isso eu me apaixonei. Porque ele é vida em miniatura: rápido, intenso, imprevisível.
E por falar em vida, é dela que se trata esse texto. A vida é uma caixa de surpresas. O “não” já é certo, a derrota já vem no pacote. Mas a vitória… ah, essa é um plus. É um sopro de vento inesperado que merece ser sentido, vivido e compartilhado.
Quando o campeonato acaba, a gente tira a chuteira e volta a calçar o salto, ou a sandália, ou até o chinelo do dia a dia. E aí vem a pergunta: o que sobra depois do apito final? Eu aprendi que sobra o aprendizado de que pode chover, o céu pode escurecer, o choro pode vir sem aviso… mas a gente nunca está sozinha.
Esse texto é para você que talvez esteja se sentindo perdida, em meio a um caos. Para você que olha ao redor e só enxerga descompasso, como as palmas desencontradas antes de voltar ao jogo. Respira. Lembra que existe um ritmo que vai se acertar. O medo vai continuar lá, mas você vai aprender a correr com ele, não contra ele.
Acredito que cada jogo é um espelho do que somos: múltiplas, intensas, contraditórias. Perdemos, ganhamos, choramos, gritamos, mas seguimos. Sempre em frente.
Vi no campo o sangue nos olhos de Camila a cada snap , um olhar de quem não cedia nada. A destreza de Tine, que se posicionava com precisão cirúrgica para dar o bote como blitzer, era quase uma dança calculada. O hiperfoco de Catarina, que nunca vi tão concentrada e dona de si, comandava como quarterback com uma presença única. Samai, a rainha de um oceano de possibilidades, fazia do impossível um detalhe: o milagre estava sempre em suas mãos. E Selminha, com a força de um gigante enraizado, aparecia em todos os cantos, em todos os lados, pronta para dar o bote.
E eu, ali, como ID, vendo tudo isso acontecer diante dos meus olhos, dando a segurança dentro do campo, sentindo cada batida desse jogo na pele e gritando “Cavalaria!” para mostrar ao mundo o que viemos fazer: ser força, ser união e deixar marcado que estávamos prontas e confiantes.
O time de flag football feminino do Cavalaria/SA entrou para a história naquele campeonato. O Coach Armando, a paciência em pessoa, com sua voz de trovão quando necessário, nos mostrou o caminho de seguir em um só ritmo. Coach Erick, talvez ainda não saiba o tamanho que carrega, mas meus ouvidos se encheram dos seus ensinamentos, a forma como ele nos fez olhar o campo de outro jeito foi um presente que levaremos para sempre.
Como cavalos soltos em campo aberto, não apenas correndo ou defendendo, mas correndo ao encontro daquilo que nos faz vivas: a força, a liberdade e a beleza de jogar juntas. Upa, Cavalaria!
Pensar com arte é pensar diferente.
Aimée é uma planejadora urbana com mais de 15 anos de experiência em Marketing, consultora de pós-graduação em NeuroMarketing, Artista Visual internacional e CEO da Tkart, uma empresa internacional de marketing.
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