Howard Lutnick, disse que Lisa Cook deve pedir “a Deus para que a polícia não vá buscá-la” e que ela “precisa ser respeitosa com o país”
O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou nesta 3ª feira (26.ago.2025) que a diretora do conselho de governadores do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Lisa Cook, deve pedir “a Deus para que a polícia não vá buscá-la”.
“A sra. Lisa Cook precisa ser respeitosa com o país neste momento e ir embora. Ela deve sair e rezar, pedindo a Deus para que a polícia não vá buscá-la”, disse Lutnick em entrevista à CNBC.
Cook foi demitida pelo presidente norte-americano Donald Trump (republicano) na 2ª feira (25.ago.2025). Segundo o republicano, há indícios de que ela cometeu fraude hipotecária. Cook negou a acusação, declarou que Trump não tem autoridade para removê-la do cargo e se recusou a sair.
O advogado de Cook, Abbe Lowell, disse que recorrerá à Justiça contra a decisão. Em comunicado, afirmou que a medida do presidente “carece de qualquer fundamento legal ou factual”. É a 1ª vez, em 111 anos de história, que um presidente demite um diretor do Fed.
FED DIZ QUE SÓ HÁ DEMISSÃO “POR JUSTA CAUSA”
Em nota, o Fed afirmou que seus diretores têm mandatos fixos de 14 anos e só podem ser afastados pelo presidente “por justa causa”, conforme estabelece o Federal Reserve Act –lei de 1913 que criou o banco central.
A instituição disse que essas garantias são fundamentais para preservar a independência da política monetária.
“Mandatos prolongados e proteções contra remoções arbitrárias atuam como uma salvaguarda vital, garantindo que as decisões de política monetária sejam baseadas em dados, análise econômica e nos interesses de longo prazo do povo americano”, afirmou o Fed.
ENTENDA
O diretor da FHA (Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA, em português), Bill Pulte, afirmou na semana passada em seu perfil no X que Cook havia designado um apartamento em Atlanta como sua residência principal depois de contrair empréstimo para sua casa em Michigan, que também teria sido declarada como residência principal. Pulte disse à CNBC que também está investigando a propriedade que Cook tem em Massachusetts.
Segundo ele, os empréstimos são de meados de 2021, antes de ela ser nomeada para o Fed pelo ex-presidente Joe Biden (democrata) e confirmada pelo Senado no ano seguinte.
Empréstimos para residência principal podem ter condições mais favoráveis do que os direcionados a outras residências ou imóveis de investimento.
Pulte pediu à procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, que investigasse o caso. Trump, então, passou a pressionar pela renúncia de Cook.
Cook era professora de economia na Universidade Estadual de Michigan na época em que as hipotecas foram contratadas.
Trump publicou na Truth Social uma carta endereçada a Cook em que formaliza a demissão com efeitos imediatos. “Há razão suficiente para acreditar que você pode ter feito declarações falsas em um ou mais contratos de hipoteca”, escreveu o presidente norte-americano.
Segundo ele, o Fed tem “enorme responsabilidade em definir taxas de juros” e “o povo norte-americano deve poder ter plena confiança na honestidade dos integrantes encarregados de definir a política e supervisionar” o Fed.
“À luz da sua conduta enganosa e potencialmente criminosa em um assunto financeiro, eles não podem, e eu não tenho tal confiança na sua integridade”, escreveu Trump para Cook.
Segundo Abbe Lowell, advogado de Cook, ela não foi acusada de nenhum crime. Em um comunicado citado pela CNBC, ele disse que a demissão por redes sociais revela um reflexo de intimidação, mas sem qualquer processo adequado, fundamento ou autoridade legal.
O advogado afirmou que tomará as medidas necessárias para impedir a ação.
A demissão de um diretor ou diretora do Fed é sem precedentes. O caso pode chegar à Suprema Corte.
Segundo a CNBC, a saída de Cook abriria espaço para Trump indicar um novo nome alinhado a ele, o que aumentaria sua influência dentro do Fed, especialmente em relação ao tema dos juros.
Os documentos de divulgação financeira de Cook, arquivados pelo governo federal, mostram 3 hipotecas contraídas em 2021, incluindo um empréstimo de 15 anos a 2,5% para um imóvel de investimento e 2 empréstimos para residências pessoais: uma hipoteca de 3,25% a 30 anos e outra de 15 anos a 2,875%.
A taxa média semanal para empréstimos de 30 anos em 2021 variou de 2,9% a 3,3%, segundo dados da MBA (Mortgage Bankers Association).