Oposição protocolou ao menos 10 requerimentos para ouvir ex-ministro da Previdência; Leila Barros é única governista
A convocação do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi (PDT) para depor na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) conta quase exclusivamente com apoio de congressistas que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A única exceção é a senadora Leila Barros (PDT-DF), que integra a base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que pediu para ouvir o presidente de seu próprio partido.
A oposição protocolou 10 requerimentos para convocar Lupi até esta 2ª feira (25.ago.2025). Inclui pedidos do relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), e do presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG).
A situação expõe uma divisão no PDT, partido que permanece na base mesmo depois da a saída de Lupi do ministério em maio. Seu substituto, Wolney Queiroz, também é filiado ao PDT.
Quem quer ouvir Lupi
Os congressistas que protocolaram requerimentos para convocar o ex-ministro são:
- Izalci Lucas (PL-DF), senador: pedidos em 18 e 20 de agosto;
- Beto Pereira (PSDB-MS), deputado: em 20 de agosto;
- Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), deputado: em 20 e 22 de agosto;
- Leila Barros (PDT-DF), senadora: em 20 de agosto;
- Carlos Viana (Podemos-MG), senador: em 20 de agosto;
- Delegado Fábio Costa (PP-AL), deputado: em 21 de agosto;
- Rogério Marinho (PL-RN), líder da Oposição no Senado: em 22 de agosto;
Além da convocação, Izalci Lucas pediu a quebra de sigilo bancário, fiscal e telemático de Lupi, além de solicitação de relatório de inteligência financeira ao Coaf de janeiro de 2023 a julho de 2025.
O senador também solicitou convocação e quebra de sigilo de Marcelo Oliveira Panella, ex-chefe de gabinete de Lupi e tesoureiro nacional do PDT.
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PDT dividido
O PDT vive uma situação peculiar na CPMI. Dividido entre Câmara e Senado desde maio, Leila Barros é a única representante do partido no colegiado e decidiu pedir a convocação do presidente da legenda.
O racha se deu depois da saída de Lupi do ministério. Enquanto os 17 deputados da legenda romperam com o governo, a senadora integra o trio que permaneceu na base ao lado de Weverton (MA) –o líder no Senado– e Ana Paula Lobato (MA).
A crise no PDT se intensificou quando o líder da sigla na Câmara, Mário Heringer (MG), disse que “demitir Lupi seria demitir o partido”. O congressista defendia que a legenda não indicasse substituto para a Previdência e buscasse outra pasta, mas foi contrariado pela nomeação de Queiroz.
Pressão sobre governo
A oposição conseguiu uma vitória significativa ao emplacar Carlos Viana na presidência da CPMI, derrotando o governista e indicado de Davi Alcolumbre (União-AP), Omar Aziz (PSD-AM). Com isso, opositores controlam tanto a presidência quanto a relatoria do colegiado.
Viana já sinalizou que pretende ouvir todos os ex-ministros da Previdência desde o governo Dilma Rousseff (PT).
“Não há motivo para que ex-presidentes do INSS não compareçam. A própria ex-presidente Dilma pode ser convocada, se o grupo de trabalho entender necessário”, afirmou.
A comissão já recebeu mais de 740 requerimentos desde sua instalação, incluindo pedidos para convocar ministros atuais como Jorge Messias (AGU), Vinícius de Carvalho (CGU) e Ricardo Lewandowski (Justiça).
Operação Sem Desconto
Lupi deixou a Previdência depois de a PF (Polícia Federal) deflagrar a operação Sem Desconto, que investiga descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS. O prejuízo estimado do esquema é de R$ 6,5 bilhões de 2019 a 2024.
Documentos do CNPS (Conselho Nacional de Previdência Social) mostram que o ex-ministro foi alertado sobre o aumento de descontos não autorizados em junho de 2023, mas levou 10 meses para tomar providências.