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Nos mais de cinquenta anos desde o primeiro pontapé no futebol candango, inúmeros jogadores conhecidos em todo o país passaram pelos clubes do Distrito Federal. Alguns já consagrados, outros ainda em formação, mas todos deixaram marcas em gramados espalhados por todo o DF. Na série Lembra dele?, o Distrito do Esporte resgata nomes que cruzaram o caminho da capital brasileira em momentos improváveis da carreira. No segundo episódio, o personagem da vez é Fernando Diniz, atual treinador do Vasco da Gama. Pouco antes de encerrar a carreira como jogador, o técnico teve uma curta passagem pelo Gama. Foram apenas 24 dias e pouco mais de 30 minutos com a camisa gamense, em uma rápida passagem por 2008.
Antes de se tornar um dos mais respeitados técnicos do cenário nacional, Fernando Diniz teve uma boa carreira enquanto jogador. A carreira teve início na Juventus da Mooca – time de coração do atual treinador do Vasco da Gama – em 1993. Ficou por lá até 1996, quando se transferiu ao Palmeiras, em uma fase de ouro, à época gerido pela Parmalat. De lá, se transferiu ao rival Corinthians, antes de rodar o país: Fluminense, Flamengo, Santos, Cruzeiro, Paraná e outros. Ao todo, foram 13 times durante toda a carreira enquanto meio-campista e 25 gols marcados, no total. Chegou ao Gama aos 34 anos, em 2008 e vinha da Juventus – o mesmo clube onde havia sido revelado 15 anos antes.
Os horizontes também não eram os mais esperançosos para o Gama. O clube vinha de três temporadas seguidas na segunda divisão do Brasileirão – e tinham ficado no meio da tabela em todas. Meses antes, o Gama já havia amargado um quarto lugar no Candangão – resultado tratado como fracasso à época. Após a campanha abaixo das expectativas no torneio local, uma barca deixou o clube e uma reformulação foi feita para o início da Série B. Dentre eles, nomes mais renomados como Adriano Magrão e o argentino Sérgio Giono chegaram para encorpar o plantel comandado pelo treinador Ademir Fonseca. Um ‘spoiler’: os dois fariam parte de uma verdadeira romaria de 104 jogadores que passaram pelo Alviverde ao longo daquela temporada.
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Dentre toda a pressão e expectativa para o início do torneio, Diniz chegou com status no Ninho do Periquito. Pelo olhar da diretoria, o já veterano meio-campista chegava como um dos principais reforços para a Série B, inclusive com cacife para vestir a camisa dez; no entanto, o otimismo não era o mesmo para o técnico Ademir Fonseca. De acordo com uma edição do Correio Braziliense de 29 de abril de 2008, o treinador não teria dado o aval para a contratação. Fernando vinha de um rebaixamento no Campeonato Paulista com a camisa da Juventus. A temporada anterior, com 16 jogos e um gol marcado pelo Santo André-SP, também não brilhavam os olhos do comandante gamense.
Mesmo assim, na apresentação, o discurso de Diniz foi em alto astral: “É uma satisfação estar aqui no Gama, e junto com os meus companheiros vamos buscar o título da Série B”. A estreia do meia aconteceu duas semanas depois, contra o Grêmio Barueri, fora de casa, na primeira rodada da segunda divisão do Brasileirão. Mesmo sem encantar o treinador, Fernando ainda treinou entre os titulares no último treino antes do confronto. No entanto, foi para o banco de última hora, por opção técnica de Ademir Fonseca. O dono da prancheta gamense optou por escalar o volante Kel. Foi o meia, inclusive, o autor da melhor chegada do Alviverde no primeiro tempo na partida diante dos paulistas.
A equipe do DF foi superior aos paulistas na etapa inicial daquela estreia. No entanto, aos 40’ do primeiro tempo, o panorama mudou quando o lateral-direito Thiaguinho tomou um cartão vermelho direto após uma falta violenta. Depois do intervalo, com 14’ da parcela final, mais um gamense foi mandado para o vestiário mais cedo: desta vez, o volante Emerson, este pelo segundo cartão amarelo. Eram dois a menos – e o juiz já tinha amarelado outros quatro jogadores do Gama. Fernando Diniz entrou logo em sequência e assistiu, de dentro de campo, o Grêmio Barueri sacramentar a vitória por 2 a 0. Ao fim do jogo, revoltado com a arbitragem, Diniz foi para cima e proferiu diversas ofensas ao árbitro: o terceiro expulso do Alviverde naquela noite.

Aquela arbitragem revoltou a todos do elenco gamense. O goleiro Luís Henrique não poupou palavras quando conversou com a imprensa após o apito final: “A arbitragem hoje foi atípica! Estávamos bem até o juiz inventar duas expulsões”. No entanto, Diniz teria subido o tom e “ferido a honra” do árbitro Renato Conceição. Um prato cheio para o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) pûni-lo com mais cinco jogos de suspensão (seis, no total). Com a suspensão, o meia só retornaria em 27 de julho – cerca de 79 dias sem entrar em campo. Antes mesmo do julgamento já corriam boatos de que, caso o gancho fosse alto, o clube iria rescindir o contrato. Dito e feito: Diniz e Gama rescindiram logo após a decisão da justiça.
Wagner Marques, homem forte do Gama, fazia pouca questão de manter o meia no elenco. Diniz também não tinha interesse em ficar mais de dois meses parado e as partes chegaram a um acordo. “Eu ia ficar muito tempo sem jogar e isso onera o clube. E estou longe da minha família, preciso resolver problemas particulares”, explicou em entrevista ao Correio Braziliense no dia em que deixou o clube. A decisão selou também o fim da carreira como jogador, que prefere apagar a breve passagem do currículo: “Prefiro dizer que encerrei a carreira no Juventus. No Gama, não tive a condição de levar a família, a saudade apertou e decidi parar. A minha produtividade já não era a mesma. E os clubes que aparecia para mim também não eram mais os mesmos. A relação custo-benefício já não compensava”, assumiu ao GE meses depois.
Carreira depois do Gama
Após pendurar as chuteiras, Fernando Diniz se reinventou à beira do campo e, com o tempo, virou um dos técnicos mais comentados do futebol brasileiro. A primeira experiência como treinador foi em 2009, no modesto Votoraty-SP, na terceira divisão do Paulistão. Ganhou projeção a partir de trabalhos ousados em times pequenos, como Audax-SP e Oeste-SP, onde chamou atenção pelo estilo de jogo ofensivo, baseado na posse de bola. A proposta, que gerou debates acalorados entre torcedores e analistas, teve ápice no vice-campeonato paulista de 2016 com o Audax, em uma campanha histórica que incluiu eliminações sobre São Paulo e Corinthians.
Desde então, Diniz passou por clubes de peso no Brasil. Athletico-PR, Fluminense, São Paulo, Santos e Cruzeiros são alguns dos times presentes no currículo do treinador. Após conquistar a Libertadores de 2023 com o Tricolor das Laranjeiras, o técnico ganhou corpo para assumir a Seleção Brasileira no ano seguinte. No entanto, não conseguiu implementar o estilo de jogo na Amarelinha e logo deixou o cargo. Nesta temporada, assumiu o Clube de Regatas Vasco da Gama. Até aqui, foram dez jogos, com quatro vitórias, dois empates e quatro derrotas. Sob o comando de Fernando Diniz, o Gigante da Colina marcou 13 gols e sofreu outros nove.

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