Mercado não reage bem ao pacote do governo e dólar fecha em R$ 5,98
Moeda dos EUA bate os R$ 6 pela primeira vez na história e fecha em R$ 5,98. Ibovespa apresenta forte queda e acumula recuo de 4,85% no ano
Para economistas, os cortes de gastos anunciados pelo governo são insuficientes para garantir o cumprimento da meta fiscal e não eliminam os riscos da trajetória da dívida pública. Para Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, as ações anunciadas por Haddad são positivas, em geral, colaborando para o ajuste das contas, entretanto, “são insuficientes para produzir um resultado primário adequado à meta estabelecida em lei”.
Segundo ele, o pacote fiscal produzirá economia de 62,7% do estimado pelo governo. Ele acredita que os efeitos fiscais são menores do que os esforços requeridos para se cumprir a meta fiscal do ano que vem.
“Nossa avaliação é que o efeito fiscal será de R$ 19,2 bilhões, em 2025, e de R$ 25,9 bilhões, em 2026, totalizando R$ 45,1 bilhões. Esse montante é inferior ao esperado pelo governo, mas é relevante e está na direção correta.”
Com a frustração do mercado, o J.P. Morgan envio nota em que projeta uma alta da Selic de 1 ponto percentual na reunião de dezembro e uma taxa que alcança os 14,25% no meio do ano que vem, de uma projeção anterior de 13%. Para os economistas, “o anúncio fiscal desta semana refutou essa suposição, um desenvolvimento que provavelmente levará o BC a aumentar as taxas ainda mais acima de 13% — e em um ritmo mais rápido do que esperávamos até o momento”.
Desvalorização do real
Levantamento da agência classificadora de risco Austin Rating, com base em dados do Banco Central do Brasil (BC) revela que o real é a oitava moeda que mais perdeu valor frente ao dólar em 2024. Hoje, a queda acumulada do real no ano chegou a 19,1%. Os dados mostram que a moeda do Sudão do Sul foi a que mais se desvalorizou este ano, com perdas de 69,80%. Na sequência, estão as moedas da Etiópia e da Nigéria, com quedas de 56% e 47%, respectivamente.
Ocupa a outra ponta a moeda do Quênia, que se valorizou 21,20% no ano, seguida pelas moedas do Sri Lanka e da Libéria, que avançaram 11,40% e 8,30%, respectivamente.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, teve mais uma forte queda. Por volta das 17h, o índice recuava 1,84%, aos 125.317 pontos, na mínima do dia. O índice acumula um recuo de 4,85% no ano.
Tramitação das medidas
As tão aguardadas medidas para controlar o gasto público — e que devem garantir o arcabouço fiscal nos próximos anos — não terão efeito imediato. As mudanças dependem do aval do Congresso e uma parte do pacote exige mudanças na Constituição Federal, o que pode levar um tempo ainda maior.
Essa tramitação é, na avaliação de Igor Rocha, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), é o que vai determinar o sucesso do corte de gastos. Segundo ele, o mercado já estava alinhado com a maioria das medidas anunciadas, e, do ponto de vista moral, as pensões e o combate ao supersalários estão alinhados com o que a sociedade espera e será difícil achar quem seja contra. No entanto, avalia, os detalhes ainda não são conhecidos e este é o maior risco no momento.
“O combate aos gastos tributários, aos subsídios, a gente ainda não sabe como vai ser feito, temos que esperar o texto final e saber como o Congresso vai avaliar. Se passar bem no Congresso, vai ser bom para a economia e as contas vão fechar. A dificuldade é que o diabo mora nos detalhes. Com que base o texto virá e como será encaminhado no Congresso?” questiona.
Em nota do diretor de pesquisa para a América Latina, Alberto Ramos, o banco americano Goldman Sachs disse que o pacote fiscal anunciado pelo governo “é decepcionante, muito difuso, de rendimento incerto e excessivamente carregado”.
Para ele, a isenção do IR para rendimentos até R$ 5 mil, juntamente com uma carga tributária maior para aqueles que ganham alta renda, “consolida a visão de que o governo continua a adotar uma estratégia de impostos e gastos em vez de se concentrar diretamente em apertar a postura fiscal, dada a deterioração da dinâmica da dívida e o aumento dos prêmios de risco fiscal”.
Por Renata Garcia – Metrópoles