Com o DF recuperado, Ibaneis promete melhorias com responsabilidade e defende FCDF
O governador do DF, Ibaneis Rocha, disse à coluna que quer zerar a fila das creches e que ampliará rede de saúde pública até 2026
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto |
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), fez uma retrospectiva dos seis anos de mandato à frente do Palácio do Buriti. Em entrevista à coluna Grande Angular, ele destacou a recuperação da economia “sem aumentar tributos”, com aumento dos investimentos nas áreas mais importantes de atendimento à população.
Ibaneis também prometeu, para os dois últimos anos de gestão, entrega de obras e melhoria na saúde, educação e segurança. O governador, porém, enfatizou que o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) é essencial para a manutenção dos serviços públicos, e que a mudança proposta pelo governo federal, se efetivada, “vai colocar o Distrito Federal e toda sua população numa situação muito ruim”.
O governador afirmou que a capacidade de pagamento do GDF saiu do índice D para o A, o que permite ao governo pegar empréstimos nacionais e internacionais para grandes obras.
“Hoje, somada a nossa capacidade de pagamento – saímos da Capag D para a Capag A – mais a parte de orçamento da fonte 100 e outros financiamentos que a gente tem buscado, nós temos capacidade de investimento para este ano de 2024 fechando da ordem de R$ 8 bilhões, com a previsão para o ano que vem ainda de melhorar para que a gente possa entregar a cidade, senão como ela merece – e Brasília merece muito –, mas bem melhor do que nós recebemos em 2019”, afirmou.
Infraestrutura
Segundo Ibaneis, as obras viárias têm sido uma prioridade do governo porque o objetivo é diminuir o tempo que os cidadãos levam para se deslocar no Distrito Federal. O governador afirmou que as intervenções têm sido feitas simultaneamente porque “a cidade estava em atraso há muito tempo”.
“As pessoas ficavam duas horas e meia, três horas no trânsito quando vinham da região da DF-250, ali do Itapoã. Então, essas obras precisavam ser feitas e tinham que ser feitas exatamente da maneira como foram, tentando causar o menor transtorno possível, mas também com a consciência de que nós estaremos melhorando a vida de todos os moradores do Distrito Federal”, destacou.
O governador afirmou que a previsão é concluir a maior parte das obras até o fim de 2025. O Drenar-DF, de escoamento das águas das chuvas na região da Asa Norte, será concluído no início do ano, segundo Ibaneis.
O chefe do Poder Executivo local anunciou que já liberou a licitação do Drenar Ceilândia, para evitar alagamentos na região, como o que ocorreu em novembro de 2024.
“São coisas que ficaram paradas muitos anos, a gente tem que tirar o projeto do zero, fazer todo o trabalho de projeto para poder fazer a licitação. Além do que tenho que conseguir os recursos. E eu trabalho da seguinte maneira: o que a gente contrata, a gente paga”, afirmou.
Servidor
Na entrevista à coluna, Ibaneis fez uma retrospectiva e citou que, quando assumiu o governo, em 2019, a dívida era de R$ 8 bilhões e havia débito com os funcionários públicos, o que foi quitado.
“Nós tínhamos débito com servidores, que era a terceira parcela daquele reajuste que foi dado ainda na época do Agnelo [Queiroz]. Nós tínhamos pagamento de pecúnias também, que estavam em atraso. Nós fizemos um trabalho de reestruturação econômica e financeira sem aumentar tributos”, enfatizou.
A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) aprovou, na última terça-feira (10/12), o orçamento de R$ 66 bilhões do DF para 2025. Questionado se haverá aumento salarial para servidores, Ibaneis disse que ainda pagará a última parcela do reajuste de 18% e que fará recomposições pontuais “com responsabilidade”.
“A gente vem fazendo a coisa com muita responsabilidade. Se não fosse isso, nem eu nem o secretário Ney [Ferraz Júnior, da Economia] nem os outros estariam na condição que o Distrito Federal tem hoje”, afirmou.
“Primeiro, nós demos um reajuste que ninguém no Brasil concedeu, que foi de 18% para todas as categorias. Pagamos os passivos, criamos um plano de saúde que atende hoje mais de 100 mil beneficiários, que são todos servidores públicos que agradecem, porque são atendidos nos melhores hospitais da cidade”, declarou.
Educação
Em relação à educação, Ibaneis informou que 25 mil crianças esperavam matrícula em creches públicas quando assumiu o GDF, em 2019. Atualmente, esse quantitativo é de 5 mil. O governador disse que pretende zerar a fila de espera até 2026.
“Hoje, os números que foram repassados pela secretária de Educação é que nós temos aí cerca de 5 mil crianças que estão fora das creches. Enquanto tiver um, eu vou continuar perseguindo a meta. A ideia nossa é, até o início de 2026, não ter nenhuma criança fora de creche”, frisou.
Outro projeto de Ibaneis na área educacional é a expansão do número de escolas militarizadas. O objetivo, de acordo com o governador, é ter 30 escolas no modelo de gestão compartilhada entre professores e policiais. “Se não me engano, o número agora é, já para 2025, implantar mais 13, para a gente fechar o número de 30 escolas militarizadas”, declarou.
“Tem sido um sucesso. Todas as famílias que têm os seus filhos nelas agradecem, inclusive pela redução da violência na região, porque esses locais são escolhidos também com indicadores de violência, de agressão, e isso tem ajudado muito a população e esses estudantes”, enfatizou.
Saúde
O governador do DF disse que conversou com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e com a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, sobre a realização de novas campanhas de vacinação contra a Covid. No DF, houve crescimento de 700% dos casos registrados.
“Não se ouve mais falar da Covid, não tem uma campanha, não se diz quando é que tem que vacinar, não chama as pessoas. Então, isso está desorientando a nossa população e está aumentando, infelizmente, os casos de Covid. Não estão sendo tão sérios como foi na época da pandemia, porque a grande maioria das pessoas já tomou a vacina, tomaram doses de reforço, mas existe uma preocupação muito grande por conta da hospitalização”, pontuou o titular do Buriti.
Em relação ao reforço da estrutura da rede pública, Ibaneis disse que fará novo Hospital do Gama e que irá relicitar a obra do Hospital do Câncer, porque “a empresa que ganhou não conseguiu tocar a obra”. “Nós estamos na fase final de aprovação junto à Caixa Econômica Federal para esse Hospital do Câncer. Então, vai melhorar muito a rede de saúde da nossa cidade, sem dúvida nenhuma”, assinalou.
O governador citou que irá entregar mais sete Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em 2025. “Nós mais que dobramos a quantidade, e agora tem mais sete que serão entregues até o ano que vem, beneficiando todas as regiões do Distrito Federal, em especial aquelas que nós criamos dentro do nosso governo, que é o caso do Araponga, do Sol Nascente e de Água Quente. Então, a gente quer, com isso, melhorar o atendimento, e temos feito um trabalho que vai evoluir muito”, afirmou.
Ibaneis citou que fez a licitação para a construção de outros três novos hospitais e disse que aguarda a liberação pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) para iniciar as obras.
“Na área da saúde, nós estávamos na ordem de R$ 7 bilhões anualmente investidos em 2019. Agora, neste ano, nós estamos fechando com mais de R$ 13 bilhões de investimentos na área da saúde. Foram mais de 7 mil profissionais contratados. Ainda é um grande problema, em virtude do que nós recebemos depois da pandemia, por conta do acúmulo das cirurgias eletivas”, ponderou.
Segurança
Ibaneis revelou que solicitou a criação da Divisão de Proteção e Combate ao Extremismo Violento (DPCev), na PCDF, porque as forças de segurança federal e local não conseguiram detectar as ameaças e agir antes de o homem-bomba Francisco Wanderley Luiz se explodir em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em novembro de 2024.
“Todo mundo quer se explodir em Brasília, porque é a capital da República, de preferência, na Praça dos Três Poderes. Então, isso faz com que a gente tenha que levar um pouco mais no nosso nível de informações, principalmente para poder, em compartilhamento com a Polícia Federal, evitar que novas coisas venham acontecer”, salientou o governador.
Sobre o recém-aprovado projeto que coloca à disposição de ex-governadores do DF quatro servidores e um carro oficial, para segurança, Ibaneis disse já ter recebido ameaças. “A gente tem informações do pessoal da inteligência nossa, que, por conta do combate que a gente tem feito do crime organizado – que graças a Deus não entrou no Distrito Federal –, existem alguns níveis de ameaça”, afirmou.
“E nós temos aí, também, uma situação que mudou muito aqui no país, infelizmente para mal, porque tem ocorrido alguns episódios, como o 8 de Janeiro, como esse homem-bomba. Quem me conhece, e vocês me conhecem muito bem, sabe que eu sou de dizer o sim, buscar o sim para resolver os problemas, mas eu também digo de forma muito clara o não, e isso tem contrariado muita gente aqui no Distrito Federal. E tenho sido muito duro também com a questão das invasões aqui na nossa cidade”, revelou o governador.
FCDF
Ibaneis também comentou a articulação para derrubar a proposta do governo federal que altera o critério atual de reajuste do FCDF. O governador disse que terá uma reunião, na próxima semana, com o relator do pacote fiscal na Câmara dos Deputados, Isnaldo Bulhões (MDB-AL).
Até o momento, PP, PSD, MDB, PL, Republicanos, União Brasil, PSB-DF, PT-DF e PCdoB-DF se manifestaram contra a mudança no Fundo Constitucional. Ibaneis calcula que há mais de 260 deputados contrários à medida.
A proposta que tramita no Congresso troca a base de cálculo do FCDF atual, da variação da receita corrente líquida pela inflação. Segundo Ibaneis, essa medida traria prejuízos à população do DF porque, em 10 anos, o FCDF “se transformaria em fundo de pensão”. Dos R$ 66 bilhões do orçamento do DF para 2025, R$ 25 bilhões são oriundos do FCDF.
“O fundo cuida da nossa segurança de forma integral e auxilia no pagamento da saúde e da nossa educação. Então, isso tem impacto direto na vida da população do Distrito Federal. Caso essa regra que foi proposta pelo governo federal venha a ser alterada, então vamos limitar o crescimento do fundo, e nós não vamos conseguir ter novas contratações, sem contar que somente o crescimento vegetativo faria com que, em 10 anos, esse fundo se transformasse em um fundo de pensão, porque só vai dar para pagar aposentados e pensionistas. Isso vai colocar o Distrito Federal e toda sua população numa situação muito ruim”, disse Ibaneis.
Leia a entrevista com Ibaneis Rocha (MDB) abaixo.
Jornalista: O senhor encerra, agora em 2024, o sexto ano de mandato. O que destaca desses seis anos de gestão?
Ibaneis Rocha: Olha, primeiro, nós temos um avanço muito grande. Quem circula pelo Distrito Federal tem tido a oportunidade de ver tudo o que tem sido feito na nossa cidade. O primeiro trabalho foi de recuperação das finanças. Me lembro bem quando nós assumimos – na época, o nosso secretário de Economia era o André Clemente –, recebemos R$ 8 bilhões em dívidas. Nós tínhamos débito com servidores, que era a terceira parcela daquele reajuste que foi dado ainda na época do Agnelo [Queiroz]. Nós tínhamos pagamento de pecúnias também, que estavam em atraso. Nós fizemos um trabalho de reestruturação econômica e financeira sem aumentar tributos.
É bom que se lembre que, logo no início do nosso mandato, nós cumprimos um compromisso de campanha que foi acabar com a Difal, que tanto prejudicava, principalmente os pequenos empresários da nossa cidade. A partir daí, nós tivemos uma evolução muito grande, fazendo com que o Distrito Federal voltasse a ter capacidade de investimento, que à época não existia. Segundo dados da Secretaria de Economia, no ano de 2018, o investimento direto da fonte 100 foi da ordem de R$ 200 milhões. Hoje, somada a nossa capacidade de pagamento – saímos da Capag D para a Capag A – mais a parte de orçamento da fonte 100 e outros financiamentos que a gente tem buscado, nós temos capacidade de investimento para este ano de 2024 fechando da ordem de R$ 8 bilhões, com a previsão para o ano que vem ainda de melhorar para que a gente possa entregar a cidade, senão como ela merece – e Brasília merece muito –, mas bem melhor do que nós recebemos em 2019.
E a gente tem que lembrar também, as pessoas muitas vezes não se recordam, que nós tivemos diversos problemas. Um deles foi a pandemia. Afetou muito a economia do Distrito Federal, porque a gente vive aqui, principalmente, do setor imobiliário e do setor de serviços. Nós estávamos com todas as lojas da cidade fechadas. Graças ao apoio do Banco Regional de Brasília e também do setor empresarial da cidade, nós conseguimos sair com o pé acelerado logo após o período da pandemia, o que restabeleceu a nossa cidade o patamar que ela merecia estar.
Muita coisa aconteceu ao longo desse período, tanto na área do empreendimento. Com essa retomada, nós temos inúmeras obras entregues pela cidade. Na área social, também tivemos um avanço muito grande com a abertura de novos restaurantes comunitários, com a manutenção do Cartão Prato Cheio, na ordem de R$ 250 por mês. Nós mais do que triplicamos o investimento na área social do Distrito Federal ao longo desse período que nós assumimos o governo. Isso tem tornado Brasília, pelos índices do Ministério do Desenvolvimento Social, uma das cidades que tem um dos melhores níveis de segurança alimentar. É uma coisa que nos deixa muito feliz, pois a gente atinge diretamente aquela camada mais pobre da cidade. Os avanços são nas mais diversas áreas.
Na área de educação, quando nós assumimos o governo em 2019, nós tínhamos em torno de 25 mil crianças fora de creche. Hoje, os números que foram repassados pela secretária de Educação é que nós temos aí cerca de 5 mil crianças que estão fora das creches. Enquanto tiver um, eu vou continuar perseguindo a meta. A ideia nossa é, até o início de 2026, não ter nenhuma criança fora de creche. E expandimos também toda a nossa rede de escolas com o projeto dos módulos escolares, que é um sucesso. A gente tem expandido muito a capacidade das escolas no local onde ela já existia. Os terrenos eram grandes, e a gente fez esse projeto dos módulos, que está dando certíssimo, e, com isso, a gente está diminuindo a questão do transporte escolar, porque a gente está conseguindo colocar as crianças mais próximas.
Na área da saúde, nós estávamos na ordem de R$ 7 bilhões anual investidos na saúde em 2019. Agora, neste ano, nós estamos fechando aí com mais de R$ 13 bilhões de investimento na área da saúde. Foram mais de 7 mil profissionais contratados. Ainda é um grande problema, em virtude do que nós recebemos aí depois da pandemia, por conta do acúmulo das cirurgias eletivas. Estamos com três hospitais lançados, estamos aguardando autorização do Tribunal de Contas para começarem as obras, e ampliamos a rede de unidades de Pronto Atendimento e de UBSs. Nas UPAs, nós mais que dobramos a quantidade, e agora tem mais sete que serão entregues até o ano que vem, beneficiando todas as regiões do Distrito Federal, em especial aquelas que nós criamos dentro do nosso governo. É o caso do Araponga, do Sol Nascente e de Água Quente. Então, a gente quer, com isso, melhorar o atendimento, e temos feito um trabalho que vai evoluir muito. O resultado para a população ainda vem. Ainda é a área mais crítica que nós temos no Distrito Federal, mas eu tenho consciência de que, em pouco tempo, a gente vai ter uma solução ainda melhor nessa área da saúde.
Jornalista: O senhor avalia que será possível entregar esses hospitais à população ainda durante o seu mandato?
Ibaneis Rocha: É muito difícil que eles sejam entregues. São obras bastante complexas. A gente espera que o prazo de execução seja entre dois anos e meio e três anos. Então, vai ficar para o próximo governador. Mas certamente vai ser um legado que vai ficar aqui para o Distrito Federal. Fora esses três hospitais que já estão licitados, nós temos o projeto do Hospital do Gama, que precisa de um novo hospital, porque a estrutura de lá está muito defasada e não cabe mais nem reforma. E nós estamos relicitando porque a empresa que ganhou não conseguiu tocar a obra, que é o Hospital do Câncer, que nós conseguimos aqui no Distrito Federal, que já tem recursos garantidos. Nós estamos na fase final de aprovação junto à Caixa Econômica Federal para esse Hospital do Câncer. Então, vai melhorar muito a rede de saúde da nossa cidade, sem dúvida nenhuma.
Jornalista: Moradores reclamam das constantes intervenções no trânsito que essas obras públicas ocasionam. É uma determinação do senhor que as obras sejam feitas ao mesmo tempo? Por quê?
Ibaneis Rocha: A cidade estava no atraso há muito tempo, então, todas as regiões tinham problemas, gargalos que já estavam há muitos anos, então a cidade cresceu muito. Recentemente eu recebi o número da nossa pesquisa, e nós estamos chegando aí perto de 3 milhões de habitantes. E, em Brasília, graças ao nível de renda que nós temos, todo mundo anda de carro. Poucas pessoas procuram o transporte público. Para aqueles que procuram, a gente tem dado a melhoria. Então, a gente tem feito intervenções viárias que são importantes e têm resolvido o problema. Basta que se veja o Túnel Taguatinga, Riacho Fundo I que foi entregue semana passada e vários outros, como Recanto das Emas, Jardim Botânico, Sudoeste, Sobradinho, Itapoã. Tudo isso são exemplos de melhoria.
As pessoas ficavam duas horas e meia, três horas no trânsito, quando vinham da região da DF-250, ali do Itapoã. Então, essas obras precisavam ser feitas e tinham que ser feitas exatamente da maneira como foram, tentando causar o menor transtorno possível, mas também com a consciência de que nós estaremos melhorando a vida de todos os moradores do Distrito Federal. Eu falo de todos, porque você também diminui o tempo do transporte público, fazendo com que as pessoas saiam mais tarde de casa e cheguem mais cedo. Então isso tudo foi pensado. Fomos atrás dos recursos, que não era fácil. Conseguimos e colocamos esse programa de obras que eu acompanho semanalmente em todas as cidades, e, graças a Deus, as coisas estão aí sendo entregues. A previsão nossa até o fim do próximo ano é estar com a maior parte das intervenções prontas e devolvendo a cidade para os moradores do Distrito Federal.
Jornalista: Governador, no mês passado, uma enxurrada acabou arrastando alguns homens e um carro lá em Ceilândia. Esse problema das enchentes após fortes chuvas aqui no Distrito Federal é histórico. O que o GDF tem feito para acabar com esses transtornos ou ao menos diminuir esse efeito das chuvas?
Ibaneis Rocha: O que acontece é o seguinte: os governantes não gostam de colocar dinheiro em obra que fica enterrada. Nós tivemos a coragem de tirar o Drenar-DF aqui na região da Asa Norte do papel. A obra está bem adiantada. Tiveram intercorrências em razão de algumas rochas que encontraram. A gente deve entregar essa obra no início do ano, para que essa região da Asa Norte seja resolvida.
Se você observar, e eu faço questão de citar isso, é que essas enchentes têm ocorrido exatamente em locais irregulares. Era assim na Vicente Pires, quando nós recebemos o governo em 2019. Você lembra bem aquela cena daquele carro sendo tragado para dentro de um buraco? Conseguimos resolver a questão da Vicente Pires e estamos na última parte da obra, e hoje já não se vê falar do problema ali naquela região.
A Ceilândia acabava na Fundação Bradesco. Hoje, com o Sol Nascente, quase dobrou a população daquela região, e todas as invasões foram feitas sem tomar o menor cuidado. Isso é uma coisa que nós recebemos no passado. Hoje nós estamos bem adiantados nas obras de drenagem, principalmente no Trecho 1 e Trecho 2, e estamos entrando no Trecho 3. A gente espera que, até o fim do governo, consiga entregar toda a parte. Aí vem o problema na Ceilândia: tem uma impermeabilização muito grande dos terrenos, com o asfaltamento, com tudo que aconteceu ali. Então, hoje, toda a água que vem da Ceilândia desce para o Sol Nascente, causando aquelas inundações. Concluímos o projeto do Drenar Ceilândia, que já vai para a fase de licitação. Eu já autorizei a Novacap a fazer a licitação, e deve estar saindo agora no início do ano, e aí nós vamos fazer as intervenções também através de galerias, para que a gente solucione o problema da Ceilândia. E, a partir daí, o Sol nascente também, porque nós vamos ter menos água descendo na região do Sol Nascente. Então tudo isso está sendo pensado. Só que são coisas que ficaram paradas muitos anos, a gente tem que tirar o projeto do zero, fazer todo o trabalho de projeto para poder fazer a licitação. Além do que tenho que conseguir os recursos. E eu trabalho da seguinte maneira: o que a gente contrata, a gente paga. Então, eu faço as coisas pensadas para que a gente possa ter uma estruturação melhor.
Se você pensar nessa questão das enchentes, não é só na região do Sol Nascente, nem da Ceilândia. Se você pegar também outras áreas que foram invadidas, é o caso de São Sebastião, Morro da Cruz, Zumbi dos Palmares, são regiões que não têm drenagem, que as pessoas foram invadindo, comprando seus lotes, até por uma necessidade de moradia e que tem problemas quando vêm as chuvas mais fortes. A gente tenta socorrer, mas é uma coisa que nós vamos ter que fazer o projeto, conseguir aprovação do meio ambiente. São regiões que têm um problema muito sério nessa questão de aprovação, nós temos que aprovar no Ibram e na Secretaria de Meio Ambiente para poder avançar nas obras. E outra região que tem sido muito atingida também é aqui a 26 de Setembro, exatamente pelo mesmo problema: sem planejamento nenhum, sem obra. E eu digo sempre que a gente tem, todo ano aqui, o desafio de enfrentar uma nova cidade para construir, e é exatamente isso que tem ocorrido. Mas a gente tem esperança de que, trabalhando direitinho, com bons projetos, a gente avança e, em pouco tempo, a gente vai conseguir tirar o Distrito Federal desse drama, se conseguirmos evitar também mais invasões.
Jornalista: Governador, o senhor lidera a mobilização dos partidos políticos contra a proposta do governo federal que prevê a alteração do critério de reajuste do fundo condicionado ao Distrito Federal. O senhor avalia que já tem apoio suficiente para barrar essa medida no Congresso?
Ibaneis Rocha: Primeiro, é bom que a gente explique para a população do Distrito Federal a importância desse fundo. Ele cuida da nossa segurança de forma integral e auxilia no pagamento da saúde e da nossa educação. Então, isso tem impacto direto na vida da população do Distrito Federal. Caso essa regra que foi proposta pelo governo federal venha a ser alterada, então vamos limitar o crescimento do fundo, e nós não vamos conseguir ter novas contratações, sem contar que somente o crescimento vegetativo faria com que, em 10 anos, esse fundo se transformasse em um fundo de pensão, porque só vai dar para pagar aposentados e pensionistas. Isso vai colocar o Distrito Federal e toda sua população numa situação muito ruim. A partir desse entendimento e dos estudos que nós levantamos, nós passamos a procurar os parlamentares, principalmente os líderes partidários e os presidentes de partidos. E a resposta foi muito positiva, até porque, 1 ano e 3 meses atrás, nós tivemos o mesmo Congresso, que não mudou – continuam os mesmos deputados e senadores –, fazendo esse convencimento, e fomos vitoriosos. Então, desta vez, a forma como nós fomos recebidos foi mais tranquila e conseguimos. Aí vocês publicaram, esses dias, nós conseguimos uma grande maioria dos partidos já com declaração dos seus presidentes, dos seus líderes. Na conta nossa, nós já temos mais de 260 votos contrários ao encaminhamento e à votação disso. E ontem nós tivemos a nomeação do relator, que é uma pessoa que tem muita experiência, que é um deputado muito respeitado dentro da Câmara, que é o Isnaldo, que é do meu partido, do MDB. Eu já pedi a ele para que, na segunda-feira, ele nos receba lá, juntamente com toda a bancada. O trabalho é de convencimento, e nós vamos continuar trabalhando até a vitória final, que é a vitória da população da nossa cidade.
Jornalista: Quando essa proposta veio à tona, há aproximadamente duas semanas, o senhor fez dura crítica e disse que integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm raiva de Brasília porque, pela segunda vez, tentavam fazer essa alteração no Fundo Constitucional do DF. Por que o senhor teve essa reação?
Ibaneis Rocha: Você tem uma matéria que foi derrotada há um ano e três meses dentro do Congresso Nacional. A primeira foi um deputado, inclusive do PP, o Cajado, que fez a proposta de inclusão dentro da PEC. Segundo, o que se ouvia à época, que foi a pedido de integrantes do governo, mas agora vem com o DNA do governo mesmo, ele foi lá e colocou no artigo do PL essa alteração novamente. Então, tentam aí inverter uma ordem, e usaram um discurso que não é verdadeiro de que os outros fundos regionais de desenvolvimento também sofreriam uma limitação. Já no caso do Fundo do Distrito Federal, que essa limitação também se aplicaria. E eu, de forma muito transparente, disse: ‘Uma coisa é um fundo de desenvolvimento regional, para você trazer investimento para empresas, para o crescimento do emprego e da renda nessas regiões que são merecidas. Eu morei no Nordeste e sei a importância desses fundos para o desenvolvimento das regiões. Outra coisa é um fundo, como é o Fundo Constitucional do Distrito Federal, que é um fundo de custeio, e ele está voltado integralmente para pagamento de folha de pagamento, e investimentos são feitos na área da segurança, da saúde, da educação. Então, com esse argumento, a gente tem visitado os congressistas, e eu espero que a gente não sofra mais ataques. Eu acho que, independentemente da coloração partidária, nós estamos dentro da capital da República. Eu acho que tem que ter um alinhamento maior entre o governo federal e o governo do Distrito Federal, porque são muitos temas em comum que nós temos aqui. Temos que fazer um debate transparente. Eu não vou andar com a esquerda nem com o PT nunca, eu prefiro sair da política. Mas eu acho que a gente consegue ter um alinhamento responsável para cuidar das coisas da capital da República.
Jornalista: Já houve algum diálogo com o presidente Lula ou com algum intermediário?
Ibaneis Rocha: Não. Eu conversei, ontem, no Fórum de Governadores, nós estivemos com o ministro Alexandre Padilha, e a gente aguarda a recuperação do presidente Lula por conta desse acidente recente que ele sofreu e da intervenção que ele teve que fazer, e a gente torce pelo pleno restabelecimento dele. E se quiserem conversar, eu estou sempre aberto ao diálogo. Eu venho da advocacia, eu gosto da conversa, gosto do diálogo, e tenho todas as condições de fazer essa interlocução sem nenhuma espécie de problema.
Jornalista: Governador, neste fim de ano, os deputados distritais aprovaram uma série de projetos de lei do GDF. O principal orçamento de 2025, no valor de R$ 66 bilhões. Sempre que há aumento de receita, existe a expectativa dos servidores de ter um reajuste salarial. Isso está nos planos do senhor?
Ibaneis Rocha: A gente vem fazendo a coisa com muita responsabilidade. Se não fosse isso, nem eu, nem o secretário Ney [Ferraz Júnior, da Economia] nem os outros estariam na condição que o Distrito Federal tem hoje. Primeiro, nós demos um reajuste que ninguém no Brasil concedeu, que foi de 18% para todas as categorias. Pagamos os passivos, criamos um plano de saúde que atende hoje mais de 100 mil beneficiários, que são todos servidores públicos que agradecem, porque são atendidos nos melhores hospitais da cidade. Nós tivemos várias categorias que nós fizemos algumas reestruturações pontuais que eram mais do que necessárias. Agora, vamos entrar 2025 também com responsabilidade, mas atendendo àquelas categorias que realmente precisam melhorar a sua qualidade salarial.
Temos uma preocupação muito grande com a questão das forças de segurança. A remuneração das forças de segurança do Distrito Federal continuam defasadas. Então, aí vêm duas preocupações. Uma é a contratação de novos profissionais, como nós fizemos este ano, com a contratação de 800 policiais civis e 400 policiais penais. Temos mais um grupo de policiais penais ainda, que precisam ser nomeados, até para melhorar a gestão do presídio, que a gente sabe que o crime organizado já há mais de 30 anos nasce dentro dos presídios que nós temos, espalhados pelo Brasil como um todo. Nós colocamos 1,2 mil policiais militares agora recentemente nas ruas para fazer o estágio e ainda temos a previsão de contratar mais 1,2 mil policiais para o ano que vem. Já estão dentro da nossa programação para que a gente faça essa recomposição das forças policiais na nossa cidade. Agora, o meu compromisso com essas categorias, e nós vamos ter que negociar mais uma vez com o governo federal, é que, havendo uma folga orçamentária, que a gente trabalhe para recompor, dentro do possível, essas remunerações. E tem uma coisa que é verdadeiro no discurso das forças de segurança, não se pode negar isso: houve uma inversão do fundo constitucional. Então, aquilo que era destinado, principalmente para a segurança, está sendo gasto hoje a mais com saúde e educação. Então, tem que ser trabalhado. Não vai ser só no meu governo, mas eu acho que também para aqueles que vierem aí pela frente, uma inversão, diminuindo a aplicação desse percentual e aumentando para a questão da segurança. Então eu tenho consciência disso e deixo bem claro a essas categorias que vamos trabalhar de forma harmônica. A conversa com muita tranquilidade para que a gente possa avançar nessas questões salariais com responsabilidade. Não adianta fazer como foi feito no passado, quando se concedia reajuste, mas não se pagava a conta. Então vai ser feito, mas com muita responsabilidade.
Jornalista: O senhor citou aí que há essa expectativa de nomear 1,2 mil policiais militares a mais no ano que vem. No caso da Polícia Civil, já foram nomeados 800 em 2024, mas tem ainda 600 aprovados no concurso. Esses também devem ser nomeados?
Ibaneis Rocha: Nesses 600 aí, nós temos o pessoal que está no reserva, e nós vamos fazer uma análise, de acordo com os estudos da diretoria da Polícia Civil, para ver o que é necessário ainda fazer de nomeações. O que for preciso para manter a segurança do Distrito Federal e desta população que eu tanto amo, nós vamos fazer para melhorar. E temos que ressaltar e agradecer os nossos policiais aqui e o pessoal do Corpo de Bombeiros. Brasília tem uma segurança de altíssimo nível, uma segurança que é reconhecida nacionalmente, e a gente tem que manter o padrão.
Jornalista: Outro projeto de lei do GDF aprovado pelos deputados distritais esta semana permite a venda da dívida ativa do Distrito Federal, que hoje gira em torno de R$ 40 bilhões, segundo a Secretaria de Economia. Qual é o objetivo dessa proposta?
Ibaneis Rocha: Esse é o projeto de lei que foi aprovado primeiro no Congresso Nacional e permite a negociação dessa dívida com entes públicos ou privados, desde que não seja o BRB [Banco de Brasília], que não pode comprar porque tem participação do governo do Distrito Federal. O BRB simplesmente vai fazer a parte da operação financeira para disponibilizar para o mercado. Então, com isso, a gente consegue colocar no mercado financeiro, e há bancos e fundos interessados na aquisição dessas dívidas tributárias. Eles têm uma capacidade de recebimento maior do que o governo, porque eles têm outros meios para fazer as cobranças. A expectativa nossa é que a gente consiga colocar, e aí já feitos alguns contatos com as instituições financeiras, entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão nos cofres do Distrito Federal, o que vai nos ajudar tanto na questão das obras que são necessárias, e os deputados também têm os seus pedidos para cada uma das suas regiões, mas também na organização financeira do Distrito Federal.
Jornalista: Esse valor seria injetado de uma só vez nos cofres?
Ibaneis Rocha: A ideia é que ele entra aí de uma só vez. Então, essa negociação está sendo feita dessa maneira. E com a cobrança desses débitos, permanece isso aí durante algum tempo. Então, a expectativa não só para o nosso governo, mas para os próximos também, desse acréscimo orçamentário.
Jornalista: Governador, a Câmara Legislativa aprovou também o projeto do GDF que prevê para os ex-governadores a disponibilidade de quatro servidores de um carro oficial. Esse projeto de lei do GDF foi enviado para a Câmara Legislativa com base nas normas vigentes em outras unidades da Federação. O senhor já recebeu alguma ameaça estando no cargo de governador?
Ibaneis Rocha: A gente tem informações do pessoal da inteligência nossa que, por conta do combate que a gente tem feito do crime organizado – que graças a Deus não entrou no Distrito Federal –, existem alguns níveis de ameaça. E nós temos aí, também, uma situação que mudou muito aqui no país, infelizmente para mal, porque tem ocorrido alguns episódios aqui, como 8 de janeiro, como esse homem-bomba que está por aí. Quem me conhece, e vocês me conhecem muito bem, sabem que eu sou de dizer o sim, buscar o sim para resolver os problemas, mas eu também digo de forma muito clara o não, e isso tem contrariado muita gente aqui no Distrito Federal. E tenho sido muito duro também com a questão das invasões aqui na nossa cidade. Então, esse nível de preocupação fez com que o secretário de Segurança dissesse: “Olha, governador, sei que você não é muito favorável, mas é uma medida que você tem que pensar para o futuro, porque ninguém sabe o que vai acontecer depois”.
Eu tenho condições financeiras. Não vou usar o carro novamente, prefiro andar no meu. Minha esposa também não precisa disso, e meus filhos também não precisam. Eu tenho condições de contratar um segurança particular, mas não tem um nível de inteligência que nós temos nos servidores da Casa Militar. São pessoas muito preparadas, que têm acesso a informações, de certo modo privilegiadas. Então, mesmo que eu venha a contratar segurança, e vou precisar, porque eu tenho meus filhos também, e esse número de servidores não atende, mas, pelo menos, eu vou conseguir orientar esses particulares que eu contratar para que a gente tenha uma segurança. E aí penso também nos outros governadores que vêm por aí. A forma de governar mudou. Hoje, o nível de acesso das pessoas à internet, a redes sociais, tornou a política um pouco mais ofensiva. E a gente tem que tomar cuidado com isso tudo, fazendo a prevenção. Eu estou muito tranquilo em relação a esse projeto. Vários estados da Federação já têm até um nível maior. Presidência da República paga, inclusive, salário. Eu não preciso disso, de forma alguma, mas a gente tem enfrentado muita coisa aqui no Distrito Federal, e isso requer uma segurança um pouco maior.
Jornalista: Governador, após os episódios da tentativa de invasão, a sede da Polícia Federal em 2022; o 8 de janeiro de 2023; agora, o mais recente, do homem que se explodiu em frente ao Supremo Tribunal Federal, o senhor criou uma divisão antiterrorismo para fazer esse trabalho de inteligência. Há preocupação com novos ataques aqui em Brasília?
Ibaneis Rocha: Até mudaram o nome da Delegacia para Atos Antiextremistas, porque a parte de terrorismo compete à Polícia Federal por atribuição constitucional de fazer investigação e fazer a persecução penal. Mas o que acontece? Todo mundo quer se explodir em Brasília, porque é a capital da República, de preferência na Praça dos Três Poderes. Então, isso faz com que a gente tenha que levar um pouco mais no nosso nível de informações, principalmente para poder, em compartilhamento com a Polícia Federal, evitar que novas coisas venham acontecer. Daí surgiu a minha ideia de, conversando com o Sandro [Avelar] e com o diretor da Polícia Civil, criar uma unidade especializada para que a gente possa fazer o acompanhamento. Isso me chamou a atenção porque no caso desse último, que se explodiu lá na Praça dos Três Poderes, ele já vinha fazendo ameaças já há algum tempo, e que nem a Polícia Federal nem a Polícia do Distrito Federal conseguiu identificar. Ou seja, se tiver uma unidade especializada, a gente vai conseguir chegar nessa informação com mais precisão e evitar que essas coisas vão acontecer aqui na nossa capital da República.
Jornalista: Quais ações o GDF tem adotado para fazer o número de feminicídios cair?
Ibaneis Rocha: Graças a Deus, tem caído. O crime de feminicídio é um crime de ódio. A pessoa passa por um momento de transtorno mental e pratica um crime de ódio. O que nós fizemos aqui foi unir forças com a Justiça, o Ministério Público e as nossas secretarias, não só Segurança, mas, Saúde, Secretaria da Mulher, Secretaria de Justiça, e criamos um grande programa de proteção. A gente paga o aluguel, a gente dá o auxílio, a gente coloca junto com a Secretaria do Trabalho para dar qualificação profissional, porque, muitas vezes, o feminicídio vem da humilhação que existe em relação à renda. Então, são várias vertentes que estão sendo adotadas para que a gente diminua cada vez mais e tire essas mulheres da situação de risco. Nós temos alguns problemas estruturais que, inclusive, ontem, na nossa reunião de governadores, nós estávamos discutindo. Nós temos aí, por exemplo, audiências de custódia, que muitas vezes se coloca 10, 20 vezes uma pessoa presa na rua novamente. Geralmente essas coisas ocorrem com pessoas que já tiveram passagens pela polícia, que voltam para as ruas e voltam a praticar crimes, dentre eles o feminicídio. Ontem, a grande maioria dos governadores encaminhou um texto da emenda que o ministro Ricardo Lewandowski pretende propor, estruturando o Susp, que é como se fosse o SUS da segurança. E ficamos, na próxima reunião nossa do Fórum de Governadores, que deve ocorrer dia 11 de fevereiro do ano que vem, de aprovar também um pacote de medidas da legislação penal e legislação processual penal para que a gente evite essa prática reiterada de crimes. Eu acho que é uma colaboração que os governadores vão dar ao Congresso Nacional, ao Executivo, para que a gente tenha mais instrumentos de combate à violência e aos crimes no nosso país.
Jornalista: Governador, a previsão é de que o DF receba da União por volta de R$ 12 milhões para equipar os policiais militares com câmeras corporais. Esse é um assunto que tem sido muito debatido, especialmente por casos de violência policial no Sudeste do país. Qual é a avaliação que o senhor faz sobre essa medida no DF? É necessária?
Ibaneis Rocha: Aqui do Distrito Federal, nós temos um nível educacional, nível de preparo das nossas polícias muito alto. A grande maioria dos nossos policiais militares, dos nossos policiais civis, do nosso Corpo de Bombeiros, são de pessoas que têm nível superior, que não se envolvem nessas questões de violência. São pequenos casos, onde se ouve aqui e ali, mas vocês são muito bem tratados pela Corregedoria. Então, do meu ponto de vista, e eu tenho conversado isso muito com o pessoal das forças de segurança, não existe nenhuma resistência aqui no Distrito Federal de se implantar essas câmeras corporais. Eu acho até que vai trazer uma medida de proteção para os nossos policiais na atividade que desempenham nas ruas da nossa capital. Então, muito, muito tranquilo em relação a isso. Não tenho nenhuma rejeição ao projeto. Acho que ele veio para ficar. Alguns estados com mais problemas e com uma resistência maior. Uma coisa que tem que ser obedecida é isso que o ministro Lewandowski vem fazendo de fazer convênios com os estados, e não obrigar que faça a implementação. Nós temos que manter também a regra do artigo 144 da Constituição, que diz que a polícia é obrigação do Estado. Então nós temos que manter essa regra sem quebra do pacto federativo.
Jornalista: A Secretaria de Saúde registrou aumento de 700% nos casos de Covid-19 nos últimos meses, mas a pasta já pediu aí para o governo federal 55 mil doses da vacina contra Covid. Para 2025, o que o senhor prevê? Vai haver uma campanha de vacinação para evitar que a Covid cresça?
Ibaneis Rocha: Nas últimas duas reuniões do Fórum de Governadores, nós tivemos a presença da ministra [da Saúde] Nísia, e uma das minhas colocações foi exatamente nesse sentido para ela, e eu tenho falado isso para a minha secretária de saúde, para a Lucilene: “Não se ouve mais falar da Covid, não tem uma campanha, não se diz quando é que tem que vacinar, não chama as pessoas”. Então, isso está desorientando a nossa população e está aumentando, infelizmente, os casos de Covid. Não estão sendo tão sérios como foi na época da pandemia, porque a grande maioria das pessoas já tomaram a vacina, tomaram doses de reforço, mas existe uma preocupação muito grande por conta da hospitalização. Nós temos que tomar muito cuidado. As campanhas, a ministra Nísia disse que vai trabalhar isso no Ministério da Saúde, e aqui no Distrito Federal eu pedi à Lucilene que preparassem, e nós vamos fazer em parceria com a Secretaria de Comunicação para informar a população, para que a gente afaste esse mal que já deu tanto problema para todos nós.
Jornalista: Ainda sobre saúde, em setembro os médicos da rede pública fizeram paralisação de 18 dias, o que impactou nos serviços da saúde da capital do país. Como é que anda a negociação com esses médicos e com outras categorias da área da saúde?
Ibaneis Rocha: O que a gente tem tratado é pontualmente cada uma dessas situações. O pedido que os médicos fazem é impossível de se encaixar dentro do orçamento. E o Sindicato dos Médicos tem um grau de politização diferenciado. Nós sabemos que o presidente do sindicato está há vários anos aí tentando se eleger deputado distrital, não consegue e tenta utilizar a classe médica do Distrito Federal como instrumento de manobra. A Justiça agora deu uma lição nele, muito bem dada. Nós bloqueamos as contas do sindicato com dinheiro que, segundo me informaram, não era nem do sindicato, era dinheiro de precatório que estava lá para pagar médicos. Então isso gerou um clima muito ruim. Mas a negociação está aberta com todas as categorias. Não tem conversa, não tem problema para a gente conversar. Agora, de forma muito transparente, porque eu não vou enterrar o Distrito Federal por conta de reajustes.
Jornalista: Em relação ao plano de saúde do GDF, houve reajuste do valor pago pelos próprios servidores, e o senhor também anunciou mudança no subsídio que é pago pelo próprio Governo do Distrito Federal. O que os beneficiários podem esperar para os próximos anos?
Ibaneis Rocha: Olha, não tem jeito de não ter um reajuste, porque você não consegue adequar. Nós temos aí um cálculo atuarial. Nós temos o reajuste das despesas médicas, reajuste de medicamentos, e a gente quer manter um bom nível de atendimento para essa população, sem sucatear um plano. A gente vem fazendo isso com muita consciência, e conseguimos, inclusive, que fosse criado o conselho, com participação dos sindicatos, uma aprovação unânime desse reajuste que foi concedido este ano. E para não pesar tanto na conta dos servidores, a contribuição, quando o plano foi criado do governo do Distrito Federal, era de 1,5% da folha, e nós elevamos para 2% para poder absorver uma parte desse impacto na conta dos servidores. Agora, todos os anos, nós vamos ter reajustes. Os menores possíveis, mas a gente tem que ter responsabilidade para não quebrar isso que tem sido, talvez, um dos maiores benefícios dos servidores públicos do Distrito Federal. Nós atendemos as melhores redes hospitalares: Santa Lúcia, DF Star, Sírio-Libanês, todos os hospitais, clínicas, laboratórios atendem o plano de saúde aqui no Distrito Federal. A gente tem o nível de reclamação pequeno: o nível de elogio é muito alto. É um agradecimento muito grande por esse benefício.
Jornalista: Em relação à educação, existe uma previsão de aumentar o número das escolas militarizadas?
Ibaneis Rocha: Olha, a gente está trabalhando para isso. Não sei se vou conseguir cumprir aqui aquele meu ideal, que era de 40 escolas, mas o projeto já está tramitando dentro do governo, e, se não me engano, o número agora é, já para 2025, implantar mais 13 para a gente fechar o número de 30 escolas militarizadas. Tem sido um sucesso. Todas as famílias que têm os seus filhos agradecem, inclusive pela redução da violência na região, porque esses locais são escolhidos também com indicadores de violência, de agressão, e isso tem ajudado muito a população e esses estudantes.
Jornalista: O senhor termina o segundo mandato em 2026, daqui a dois anos, que também é um ano de eleição. O senhor já disse que pode vir candidato ao Senado e também que pode vir candidato a nada. Como é que está o seu sentimento em relação a isso?
Ibaneis Rocha: Eu tenho muita tranquilidade em relação a essa questão da política, porque eu tenho um sentimento de dever cumprido. Quando ganhamos a eleição de 2018, já a partir do período da transição e ao longo desse período, eu acho que nós conseguimos realizar muito para a nossa capital, para a nossa população. Então, eu tenho dentro de mim um sentimento de dever cumprido. Só que eu gostei da política. Eu não posso negar isso. É uma maneira muito efetiva de você atender aqueles que mais precisam, com bons projetos. Eu tenho uma história na advocacia também e tenho conhecimento da legislação, e eu acho que eu posso contribuir muito para o país com o meu trabalho dentro do Senado Federal e dentro do Congresso. A minha expectativa é de ser candidato ao Senado e prestar esse serviço ao Senado da República. E mais adiante a gente vê o que vai acontecer. Só que a política é bem nebulosa. Então você não sabe muito bem como é que vai ser o cenário em 2026.
Jornalista: O senhor poderia ser um possível candidato a presidente da República?
Ibaneis Rocha: Eu acho que eu estou entre os players. Eu não me coloco como menor do que nenhum que tem se colocado por aí. Vejo como o melhor candidato, hoje dentro do cenário nacional, o governador Tarcísio, de São Paulo. Não vejo nele ainda vontade de ser. Ele não tem declarado isso. Está correto ele, não tenho dúvida disso, ele está no primeiro mandato. Eu quase sempre estou em São Paulo, encontro com pessoas de lá também. A gente vê que ele tem uma aceitação muito grande. Então, o que ele tem colocado, e o Kassab também, que é secretário dele, é que ele seria candidato à reeleição de São Paulo e deixaria para concorrer em 2030. Então, nós temos outros nomes que estão aí. São nomes bons. Eu estou falando da centro-direita. O próprio presidente do meu partido citou o meu nome na entrevista que ele deu em São Paulo. Dentro do MDB nós temos bons quadros: tem o Helder, que é um bom quadro, tem o Renan, a própria Simone, que está fazendo um trabalho de ajuda ao governo federal. Dentro do meu partido nós temos bons, mas temos outros também que, como governadores, se colocaram muito efetivos na prestação de serviço. Tem o Ratinho Júnior, que está dentro de um dos maiores partidos deste país, que é o PSD, que fez o maior número de prefeituras. Tem o Romeu Zema, que fez um trabalho de reestruturação de Minas Gerais que é invejável. E que temos aqui o nosso vizinho, o governador Caiado, que fez um bom trabalho também no estado de Goiás, é aprovado por quase 80% da população de Goiás. Eu acho que tem alguns nomes que vão se aliar aí, e vamos ter uma grande participação também dos partidos políticos para poder fazer a escolha do nome que vai concorrer em 2026 com o presidente Lula ou quem for indicado dele.
Jornalista: E o senhor tem conversado com os demais partidos, o PL…
Ibaneis Rocha: Converso com o Valdemar, converso com a Bia [Kicis] e com os deputados da base. Eu tenho uma interlocução muito boa com o PP, através do Ciro, o próprio Arthur Lira, do líder do PP. A gente tem conversado com diversos partidos. O Republicanos, o Marcos Pereira é uma pessoa que a gente tem um carinho muito grande, que já nos acompanha há muito tempo, tem três deputados federais na nossa base aqui no Distrito Federal. Então, a interlocução tem sido constante com todos os partidos. A gente se encontra aqui em Brasília, graças a Deus, com muita facilidade, seja nos restaurantes, seja nas nossas casas, e a conversa sempre roda em torno da política. Estamos trabalhando exatamente para manter esse grupo unido para a eleição de 2026.
Por Isadora Teixeira – Metrópoles